Sobre a beleza de ser espírito
Desde que eu era criança bem como até hoje vejo graça nas pessoas que tem medo de filmes de terror relacionado a demônios, espíritos e afins. Isso porque foi passada para nós uma cultura de horror às coisas que naturalmente não temos – pelo menos a maioria – a capacidade de enxergar. Por sempre ter tido o desejo de descobrir de onde as coisas vinham, como elas surgem, o porquê delas se fazerem assim, resolvi experimentar reuniões espíritas, livros espíritas até passar a entender a sua filosofia.
A priori, o espiritismo abraça o conceito de caridade. Alan Kardec ao escrever “o evangelho segundo o espiritismo” menciona o discípulo Paulo na seguinte ocorrência: “quando eu mesmo tivesse a linguagem dos anjos, quando tivesse o dom de profecia, quando tivesse toda a fé possível (...), se não tiver caridade, nada sou.” Desse modo, Paulo põe em primeiro lugar o efeito da caridade. Caridade essa que por excelência torna-se uma espécie de mandamento maior dentro da filosofia espírita justamente porque tem a nobreza de poder ser executada por todos: desde o ignorante, ao pobre, ao rico, ao sábio, bem como independente de qualquer crença particular. Dessa forma, trazendo o texto para um lado mais pessoal, foi a partir da compreensão do que é de fato a caridade, a compaixão e fé que pude ver a beleza de ser espírito.
No entanto, antes de alcançar a compreensão acerca da natureza espiritual, faz-se necessário passar por um processo de negação. Duvidar, questionar e negar são questões inerentes à humanidade. Fazemo-nos humanos pela forma como vemos e respondemos ao mundo, influenciados pelas nossas virtudes e crenças. Desse modo, durante muito tempo passei a abnegar os conceitos acerca do espiritualismo, pois, ao estudar a natureza sob o olhar cientifico torna-se difícil estender a credulidade a qualquer preço.
Como unir então a idéia de ser espírito ao plano científico? Pois bem, passei a estudar nas obras espíritas, principalmente nas de Alan Kardec, como são vistas as perspectivas cientificas no plano da fé espiritual. Segundo o evangelho espírita, tanto a ciência bem como a religião fazem parte da inteligência humana, a ter como principio a fé em um poder superior, que não tem a pretensão de fazê-las inimigas ou contrárias, uma vez que, se fossem a negação uma da outra, estaria Deus aniquilando sua própria obra?
Neste momento, você deve estar se perguntando quem é essa figura chamada de Deus, se na teoria, a ciência seria atéia? Bem, é fato que para se ter ciência, bem como para se acreditar na realidade é preciso a força da fé. A fé de descobrir a verdade, de repensar um cálculo matemático, de acreditar na verdade alheia é a força que move o mundo. Esse deus, portanto, não necessariamente seja a representação da figura humana, seja um bom velhinho acima das nuvens. Esse Deus tem a capacidade de assumir diversas formas, seja a ele atribuída uma energia física, seja a ele atribuído ao plano quântico, à natureza. Não importa. Ele é desconhecido, misterioso e incompreensível à visão humana.
Desde o tempo do renascimento até os dias atuais ainda existem buracos e falhas na união entre ciência e religião. Por mais que uma complete a outra, é preciso preencher um vazio que ainda as separa. Um traço de união que ainda falta. Mas, para superar isso é preciso deixar de lado a incredulidade e a intolerância gerada por um conflito encharcado por observações defeituosas e exclusivismos.
Desse modo, retomando o titulo do texto, a beleza de ser espírito está nas possibilidades que podemos assumir durante toda a nossa existência, a beleza está no nosso livre arbítrio de acreditar no que quisermos e quando quisermos sem aquele olhar repreensivo e intolerante. A beleza de darmos sempre o melhor de nós ao mundo sem medo, sem limites internos. A beleza de aceitarmos todas as ideologias e diferenças sem preconceitos, crer que o nosso próximo – mesmo aquele com más intenções – precisa de um pouco mais de compaixão para ser compreendido. E perceber que mesmo os considerados “opostos”, como na ciência e religião, estão mais próximos do que imaginamos.
Por fim, este texto não está somente direcionado aos espíritas praticantes. Está direcionado aos crédulos, aos ateus, aos religiosos e a todas as pessoas que respeitam a diversidade e a dualidade da natureza humana. Essa natureza dupla, de mistérios não compreendidos, de uma fragilidade exposta, mas que ainda assim pode ser bela quando vista por outros ângulos.