Ah, o amor é outra coisa!
Quando estamos apaixonados a vida parece ganhar novo significado. Fazemos planos, imaginamos um futuro, sonhamos com formas de realizar estes planos.
Os dias ficam mais alegres, mais ansiosos... As lágrimas mais ácidas. O peito oscila entre a felicidade de ter e a insegurança, o medo de perder. Parece que temos vontade de fazer tudo agora para agradar a pessoa. Nos empenhamos para surpreender o outro. Queremos ser melhores do que outras pessoas e do que nós éramos para chamar a atenção daquela paixão, para surpreendê-la e conquistá-la. Nos inflamos de orgulho quando alguém comenta o quão especial aquela pessoa parece ser.
Pensamos que pode ser pra sempre. Sonhamos que seja. Queremos que seja. Mas não é!
O fim dói intensamente para quem fica, e passa. Numa próxima paixão soma-se o receio de viver tudo de novo. E vive.
Eu me perguntava se seria o amor tão especial para se ter sempre o mesmo fim. Mas aí descobri que estava terrivelmente enganada. Ora, a paixão que eu julgava ser amor é passageira. Tudo o que sentimos quando estamos apaixonados, tudo o que sabemos sobre se relacionar com alguém muda quando descobrimos o amor.
É como se vivesse pela primeira vez, algo totalmente novo pra se explorar. Ao contrário da paixão, no amor os dias são serenos. Há ansiedade para ver a pessoa, pensamos mil vezes nela no decorrer do dia (e sorrimos todas as vezes), mas isso só nos impulsiona para realizar, da melhor forma, todas as tarefas diárias. Nos sentimos melhores do que éramos não para surpreender quem amamos, mas porque aquela pessoa acredita que somos melhores, nos olha como se fossemos, e, automaticamente nos tornamos!
Os planos que não saíam do papel passam a ser projetos, objetivos a serem alcançados, se tornam mais concretos porque a ideia de um futuro com a pessoa é a única finalidade. Procuramos nos realizar profissionalmente, nos tornamos mais corajosos para arriscar (mesmo que não dê certo), buscamos estabilidade porque alguém acredita nos mesmos sonhos, e dá sentido a eles.
Não nos inflamos de orgulho só quando alguém elogia a pessoa amada, mas como um prêmio que ganhamos, a olhamos admirados, encantados por ela estar ali e ser do jeitinho que é. Vibramos com suas conquistas, entendemos suas frustrações, acompanhamos suas crises sem que nada diminua aquela admiração com que a olhamos.
Nos despimos de nossos segredos porque, se antes escondíamos ao máximo nossos defeitos, agora precisamos que o outro nos conheça e nos aceite.
Não nos empenhamos mais só para que a pessoa tenha uma boa impressão a nosso respeito, somos melhores, mais pacientes, mais afetuosos estando a pessoa ali ou não, porque na realidade ela se encontra sempre presente aonde quer que estejamos.
Não permitimos nada que estrague a relação, nada que a marque o relacionamento para o fim.
Há desentendimentos, mas não importa mais quem estava certo. Desde que fiquemos bem, o orgulho não precisa falar mais alto.
Amadurecemos para que a juventude não atrapalhe, para que possamos sempre acompanhar os planos um do outro, simplesmente porque a despedida não é uma opção.
Quando entendi isso finalmente vi que todos os relacionamentos anteriores jamais teriam dado certo. As paixões foram boas, mas o amor... Ah, o amor é outra coisa!