PARA MARIANA E PARIS
Acima: Mariana e Paris, tragédias diferentes, dores semelhantes
"Sabe do que eu tenho medo? Sabe do que estou cansando, querida? Do mal." Do extraordinário filme jurídico O poder e a lei
Segundo Beckett “Toda palavra é uma mácula no silencio e no nada.”. Então, o que eu poderia escrever sobre Mariana e Paris que já não foi escrito por ai? Que informações colher e apresentar para escandalizar? Que reflexões? Eu não tenho nada a dizer sobre isso. Estou triste e mau-humorado. Isso é tudo. Eu poderia olhar nos seus olhos e dizer que tudo ficará bem mentindo como uma mãe misericordiosa ou um político profissional? Você também se sente um estranho nesse mundo desumano? Ouve Shakespeare sussurrando: “O inferno está vazio e todos os demônios estão aqui.”? Oh, de fato, o inglês é inigualável. Quanto aos culpados só consigo me lembrar duma frase do Pink Floyd “Se eu pudesse mandaria fuzilar todos vocês.”. Mas já seria tarde demais. A vingança não é uma segunda derrota? Primeiro te violentam, depois te transformam no violentador. E perder quem se ama é devastador. Sim, estou cansando do mal, meu amor... Estou enlameado e ensangüentado na pele, na carne, nos ossos e na alma. Estou cheio de ódio pelos corruptos e pelos terroristas.
É preciso ser duro para fazer justiça.
Abaixo: um dos poemas mais magníficos de todos os tempos, o docemente fantasmagórico Evocação Mariana. Da igreja resta apenas o poema. Que amargura, meu Deus!
PARA MARIANA, com poesia e metafísica
EVOCAÇÃO MARIANA
A igreja era grande e pobre. Os altares, humildes./ Havia poucas flores. Eram flores de horta./ Sob a luz fraca, na sombra esculpida/ (quais as imagens e quais os fiéis?)/ ficávamos./
Do padre cansado o murmúrio de reza/ subia às tábuas do forro,/ batia no púlpito seco,/ entranhava-se na onda, minúscula e forte, de incenso,/ perdia-se./ Não, não se perdia.../ Desatava-se do coro a música deliciosa/ (que esperas ouvir à hora da morte, ou depois da morte, nas campinas do ar)/ e dessa música surgiam meninas – a alvura mesma –/ cantando./
De seu peso terrestre a nave libertada,/ como do tempo atroz imunes nossas almas,/ flutuávamos/ no canto matinal, sobre a treva do vale.
Por: Carlos Drummond de Andrade
PARA PARIS, com amor e humor
“Tememos a morte e questionamos nosso lugar no universo. A tarefa do artista não é sucumbir no desespero, mas achar solução para o vazio da existência.” Wood Allen, Meia-noite em Paris
“Nós sempre teremos Paris.” Casablanca
"A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las." Santo Agostinho