Espelhos
O post de ontem dá que pensar. Como tudo o que vemos à nossa volta é ilusório, como os nossos sentidos se deixam enganar, como não podemos ter a certeza de nada... A pintura é uma ilusão - não espelha o real; a fotografia sim. Isto pensavam os pintores do século XIX quando confrontados com um aparelho que nalguns instantes reproduzia fielmente (ou quase, naquela altura) o que lhes levava imenso tempo e trabalho a conseguir. Felizmente que assim pensaram pois que isso lhes permitiu trilhar novos caminhos, cumprindo o vaticínio de Gustave Moreau: Vocês vão simplificar a pintura! Mas a fotografia também não representa o real: lida apenas com imagens susceptíveis de ser trabalhadas plástica e semanticamente, tal como a pintura. Pode tornar-se tão surreal e abstracta que parece real e vice-versa...
Duane Michals, de quem já aqui se falou, é um fotógrafo da fronteira entre o real e o surreal. Tal como René Magritte, tema também de um post nosso, joga com as imagens de modo ilusionista e misterioso, com recurso frequente a espelhos e ilusões ópticas. Não é por acaso, certamente, que é comum o pintor belga aparecer retratado nas fotografias de Michals, como se de uma cumplicidade entre ambos se tratasse. De que lado do espelho está o real, de que lado estamos nós?