Cinema em cartaz #1
Antes de Hollywood ter feito do lançamento de qualquer filme um acontecimento mediático à escala global e ter imposto uma imagem de marca padronizada a todos os produtos afins, o cinema dispunha de meios bem mais modestos para se publicitar. Os estúdios não exerciam como agora a ditadura do design promocional e davam alguma liberdade às casas de espectáculo para divulgar os seus filmes. Frequentemente o material que distribuíam juntamente com as cópias era até escasso e obrigava os distribuidores locais a improvisar com base em fotografias e pouco mais, não dispensando a cobrança dos respectivos direitos, obvious.
Hoje, porém, nos conjuntos de dez micro-salas/estúdios de cinema com painéis luminosos, temos bonecos e telas nas paredes de um ridículo foyer comum ao lado das pipocas e da Coca Cola - o hábito mais idiota que importámos dos americanos - e por todo o lado há panfletos com informação dos filmes previstos até ao mês que vem. Entretanto já vimos cem vezes o trailer na televisão, "num cinema perto de si", e recebemos os toques polifónicos no telemóvel.
Muitos se lembrarão certamente das grandes salas de cinema com dez metros de altura e chão em madeira que rangia; do seu foyer generoso com bengaleiro e um bar a sério; da tela gigantesca pintada à mão que, pendurada na fachada, anunciava o filme em exibição; dos três ou quatro cartões junto às bilheteiras que mostravam fotografias captadas durante a rodagem; do cartaz em papelão, vincado e já rasgado de tanto correr o país...
Nesse tempo o cartaz era o meio quase exclusivo de divulgação de um filme. Os artistas gráficos faziam o melhor que podiam e sabiam recorrendo à fotografia, à serigrafia e à sua destreza no desenho. A contenção de meios obrigava a que a concepção do cartaz fosse bastante elaborada e o seu resultado fosse fortemente comunicativo. Era possível e interessante comparar os vários cartazes feitos para o mesmo filme em vários países e até no mesmo país. Vejam-se estes exemplos:
Taxi driver, de Martin Scorcese, nos EU e na Polónia.
Chinatown, de Roman Polanski, nos EU e na Alemanha.
Bullit, de Peter Yates, nos EU e na Itália.
2001: Odisseia no espaço, de Stanley Kubrick, nos EU.
Belle de jour, de Luis Buñuel, em França e nos EU.
Easy rider, de Dennis Hopper, em Itália e no Japão, e Un homme et une femme, de Claude Lelouch, em França, nos EU e no Japão.