Silvia Machete: simplesmente mulher
Mulheres são a grande contradição de tudo. A anti-matéria, o anti-efeito, o contra-golpe. Dizer em voz alta meia dúzia de paradoxos femininos já foi um grande sinal de fraqueza. Para chegar ao patamar de igualdade que garantiu o direito ao voto, ao trabalho e a escolha de quem casar, com quem transar, quando ter ou não filhos, muitas coisas foram renegadas no caminho.
Do próprio funcionamento biológico, que demarca uma série de diferenças entre homens e mulheres e as coloca irremediavelmente de ciclos que só a natureza, dentro dos seus critérios caóticos, consegue controlar. Robert Johnson, Chico Buarque, Almodóvar e Milan Kundera foram alguns dos primeiros a farejarem que, não, elas não são nada estáveis, mas sim, é impossível fugir da confusão que deixam por onde passam. Tem algo de fascinante e destrutivo.
Mas e as mulheres falando delas mesmas? Visto de dentro, o mundo das portadoras de útero é ainda mais bizarro e confuso e conseguir assumir todos os lados de tantas moedas, sem ter de tirar as ombreiras é uma tarefa feminina bastante século XXI; o orgulho do paradoxo é a a fonte das narrativas desenhadas de Maitena e Marjane Satrapi, também nas falas afiadas de Fernanda Young. Ficamos mais inteligentes para falar de nós mesmas sem pieguismos - pero sin perder la ternura. E agora é a cantora Silvia Machete, que já ensaiava bater o pau na mesa da feminilidade assumida e inexplicável, que vem engrossar o time.
Já falamos dela certa vez aqui no Obvious. A brasileira que largou os trapézios de circo para ir cantar sobre os mais variados e desvairados assuntos, acompanhada de muita irreverência e show de equilibrismo, apresenta seu novo vídeo “Simplesmente Mulher”.
A música faz parte do seu primeiro disco Bomb of love – musica safada para corações românticos do ano passado e agora também comparece na trilha sonora da novela Caras e Bocas da Globo. O clipe visita o fluorescente universo de Silvia Machete, uma mistura de pin-up, macumba e bambolês para falar um pouco das misérias e grandezas do ser mulher. Claro, com toda loucura e qualidade musical que são marcas da moça. Destaque para a La Belle de Jour no espelho, para os pombos e todo o passional exagero kitsch. A direção é de André Mello com as produtoras Cabiria Entertainment e Culto Circuito.