Glenn Brown - pintura distorcida
Arian 5
Ironicamente, para um artista cuja arma principal é a distorção, Glenn Brown é, ao mesmo tempo que tem sido grosseiramente mal representado como pintor e criador, um dos pintores mais admirados da sua geração.
Nascido em 1966 na cidade de Hexham (UK), estudou em três conceituadas escolas londrinas, a Norwich School of Art, a Bath College of Higher Education e a Goldsmith's College.
Utilizando obras históricas e da cultura pop, as quais incluem pinturas de Dali, Auerbach, Baselitz ou Rembrandt, bem como peças de artistas desconhecidos que criam mundos imaginários que sustentam a ficção científica, Brown, como eles, tem em si o desejo de investigar as diversas linguagens da pintura.
No ano 2000 foi nomeado para o Prémio Turner e, surpreendentemente, acusado de plágio devido à obra 'The Loves of Shepherds', que tinha como ponto de partida uma ilustração capa de um livro de ficção científica de 1974. A acusação esteve nos antípodas da sua intenção artística.
O empréstimo de imagens é apenas o primeiro passo, sendo estas depois sujeitas a um processo lento e intuitivo. Durante meses, cada imagem é desconstruída, revelando-se aos poucos a natureza da visão de Glenn pela metamorfose e acumular contínuo das múltiplas versões da mesma. O pintor descreve o fim do processo criativo, não como um acabar, mas como um intervalo, uma paragem efémera, como que sugerindo que a imagem, objecto do seu trabalho, como a vida, faz parte de um fluxo perpétuo.
A sua habilidade e a bravura obsessiva da sua pincelada, alimentadas pelo fascínio sobre a forma como reproduções de pinturas podem ver distorcidas as suas qualidades originais, levam-no a um patamar que eleva a experiência humana, tão desvalorizada e vulgarizada nestes dias, entrando num jogo plástico de construção e destruição. Brown começa por projectar as reproduções numa tela em branco, seguindo-se a transformação do familiar em algo novo, por meio de alterações de tamanho, cor, textura e por fim, numa apoteose criativa, de todo o trabalho com o pincel.
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As 'amostras' – como gosta de chamar às suas referências –, são escalonadas, enviesadas, distorcidas e contrabalançadas pelas suas pinceladas precisas, numa justaposição de elementos que vão do kitsch ao sublime. Uma sinfonia de cor, sempre com um timbre sombrio.
Por debaixo das finas e planas superfícies das pinturas espreitam, como num lago, profundidades e texturas, descritas ainda que escondidas e privadas de massa visível. Nas suas temáticas escabrosas, a História gira entre o real e o vácuo de um mundo outro. Figuras irreais parecem liquefazer-se a cada pincelada, num misto de decadência e crescimento. Reflexos mórbidos sobre visões grandiosas e grandes gestos. Vida, morte, mito e cliché, cruzam-se na única parte do mundo físico que os pode suportar.
O processo criativo característico de Glenn Brown, temperamental e objectivo apenas na sua subversão, deriva do desejo de explorar, examinar e perverter, à semelhança da tinta nos seus quadros, as camadas e camadas da História. É assim, capaz de recolher e pegar nas referências da pintura e da história cultural, passadas e presentes, e criar um mundo carnavalesco e bizarro onde o irracional e racional, abstracto e concreto, visceral e composto, o belo e o grotesco são indissociáveis.
A sua evocação de imagens de escolha precisa, e a fusão nestas de estilos díspares – do Rococó ao Maneirismo, do Expressionismo, do Realismo ao Surrealismo –, perturbam estas distorções sofisticadas, capazes de evitar que as fontes originais nunca sejam verdadeiramente fixadas ou identificadas, obrigando a mutáveis interpretações.
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