Maria Lassnig: consciência do corpo pela deformação
Fraternite, 2008, Oil on canvas, 150x200cm
Nome incontornável na pintura contemporânea feminina, Maria Lassnig é uma austríaca de gema, que ainda vive e trabalha em Carinthia, cidade onde nasceu em 1919. Depois de terminar os seus estudos nos anos 40, desenvolveu a técnica da aguarela e dedicou-se a pintar pela "consciência do corpo", sendo esse ainda hoje um tema dominante nas suas telas.
Nos anos 50 fez parte do grupo Hundsgruppe, que incluia artistas como Arnulf Rainer, Ernst Fuchs, Anton Lehmden, Arik Brauer, Wolfgang Hollegha e outros pintores influenciados pelo expressionismo abstrato e pelo action painting. Entretanto, envolveu-se também com a escola de Paris onde conheceu pensadores como André Breton e Paul Celan, que lhe deram a conhecer a poesia surrealista da época, decalcada do pensamento psicanalítico e marxista.
Esta amálgama de influências e correntes a que esteve exposta fez com que Lassnig pintasse a sua forma de ver o mundo e de ver as pessoas através de uma técnica que é, simultaneamente, robusta e clara. Explora o corpo e dá a sua própria interpretação das imagens que apreende, desfigurando e proporcionando múltiplas metamorfoses no corpo humano, para, finalmente, nos dar a consciência da sua existência, uma percepção que frequentemente damos por garantida (ou que obliteramos por completo). Os motivos das suas aguarelas são contemporâneos: é frequente vermos jogos de futebol nas suas telas, ou cenas do quotidiano moderno. Mas as suas deformações do corpo levantam questões que não são apenas de hoje: por que somos como somos? E ainda mais: por que é belo o que tomamos por belo?
Der Kuenstler (The Artist) - Der Junge Maler, 2008, Oil on canvas, 200x150cm
Im Netz, 2001, oil on canvas, 205x205cm
Untitled (Blase), 2008, Oil on canvas, 200x150cm
Seduction (Verführung), 2004, Oil on canvas, 192x153cm
Além da pintura, Lassnig realizou algumas curtas-metragens nos anos 70. Por exemplo, o Kantate de 1992 (único filme disponível no YouTube) mostra a pintora a cantar uma música tradicional alemã, com um cenário composto pelas suas animações em aguarela, por trás da sua própria imagem.
É de notar ainda que esta pintora foi a primeira mulher a ganhar o prémio Grand Austrian State Prize, em 1988, e ganhou o Austrian Cross of Honour for Science and Art, em 2005. Em 1996 a exposição da retrospectiva do seu trabalho no Centro Georges Pompidou tornou-a numa artista mais-que-consagrada. Expôs ainda na Bianal de Veneza e na Serpentine Gallery e tem também trabalhos permanentemente no MoMA, em Nova Iorque.