Shao Yinong: O Poder do Dinheiro
Shao Yinong (Munchen Banknote Tapestries)
O que determina o poder de uma nação ou de uma pessoa? No mundo capitalista, o dinheiro é o mais poderoso dos fatores.
Resquícios da crise mundial, bancos avaliando juros altíssimos e o mundo se “acabando” para tentar se reestruturar economicamente, os olhos de tantos países sempre voltados para a China pelo seu poder de capital - embora seja um país teoricamente socialista - são pequenas mostras do poder do dinheiro.
Nesse cenário, os artistas Shao Yinong e Muchen Debuting lançam na Bienal da Arte de Singapura a coleção de 12 tapeçarias em tamanho gigante que reproduzem as notas da antiga China, do Vietnã, da Alemanha, da Rússia e da União Soviética, países que entre 1989 e 1992 deixaram de se definir como socialistas.
Nestas tapeçarias, Shao Yinong – idealizador e criador – une a técnica clássica e milenar do bordado Suzhou com as imagens de homens públicos, poderosos, estampas das moedas e dos governantes, deuses e monumentos, refletindo sobre o poder do dinheiro nas culturas socialistas – já extintas – e ironicamente as retratando com a arte “simples” do bordado que se mantém vivo até hoje.
Na leveza da técnica Suzhou vemos representações detalhadas bordadas em seda fina com relevo aparente. A maior parte das moedas ilustradas na obra de Shao Yinong já foi substituída; as nações, seu socialismo e cultura, antes fortes, foram extintos, e estão expressos nesse trabalho tão delicado que reflecte a fragilidade do poder político e econômico. Talvez a leveza do bordado Suzhou, que ainda vive, se mostre mais forte que cada um dos poderes representados nestas moedas.
Os chineses, que criaram no século XI o conceito de “dinheiro” tal como hoje o conhecemos (o papel-moeda), vêm nos últimos abortando a ideia do socialismo e cedendo às características do sistema capitalista, assim como fez a República Socialista do Vietnã. Esse novo capitalismo, denominado “socialismo com características chinesas”, revela que até os conceitos rígidos e milenares da cultura chinesa – tida como uma das mais sólidas do mundo – vem se curvando ante o poder do dinheiro.
Shao Yinong (Munchen Banknote Tapestries)
Shao Yinong (Munchen Banknote Tapestries)
As moedas surgiram para organizar a comercialização de produtos e acredita-se que a China utilizava moedas cunhadas antes do século VII a.C. Durante anos, a moeda possuía valor real de acordo com o metal de que era feita, mas hoje toda moeda possui valor nominal: vale o quanto está descrito nela.
A vontade de se tornar cada vez mais uma nação poderosa e uma das potências do mundo provocou mudanças ideológicas, económicas e políticas na China, com impacto na cultura e no modo de governar de seus líderes.
O poder do dinheiro é tema recorrente nas narrativas centrais da humanidade. O poder de fixação dos números impressos sobre uma nota é tão deslumbrante quanto nocivo. A centralidade do dinheiro como um símbolo de poder político, pessoal e social é intangível e imensurável, mas somos constantemente lembrados de que ter ou não algumas moedas no bolso ou um monte delas no banco faz de nós alguém no mundo. Talvez não seja só isso o essencial, mas é com certeza o primeiro aspecto que consideramos: vivemos num mundo capitalista e portanto somos também capitalistas! O dinheiro, ouro, prata e as posses despertam e representam um sentimento tão deslumbrante que sempre foram considerados ímpios ou não divinos. Já que na China os bens de consumo são baratos - comparados aos mesmos produtos no Brasil, por exemplo – o governo pratica altos impostos aos produtos importados (para fortalecer o comércio e indústria local). A sedução do comércio está em todas as esquinas da China contemporânea, produtos eletrônicos são fabricados e comercializados numa velocidade espantosa, tornando-se obsoletos em poucos dias. O mercado chinês é um festival de lançamentos e promoções simultâneas onde é difícil saber se o “novo” está em liquidação ou o "velho" está com desconto. Tudo que o dinheiro compra por lá é muito descartável e não perdura. Esse cenário nos faz pensar novamente no contraste entre o bordado Suzhou - sua técnica impagável - e as moedas retratadas por Shao Yinong: um vive há milênios e o poder do outro durou enquanto as moedas valiam...
Atribui-se aos chineses o provérbio abaixo:
O poder do dinheiro “Ele pode comprar uma casa, mas não um lar. Ele pode comprar uma cama, mas não o sono. Ele pode comprar um relógio, mas não o tempo. Ele pode comprar um livro, mas não o conhecimento. Ele pode comprar um título, mas não o respeito. Ele pode comprar um médico, mas não a saúde. Ele pode comprar um sangue, mas não a vida. Ele pode comprar o sexo, mas não o amor.”
Shao Yinong (Munchen Banknote Tapestries)
Shao Yinong (Munchen Banknote Tapestries)
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