Sayaka Ganz - a beleza improvável do lixo
© Sayaka Ganz.
Numa época em que se fala mais do que nunca em reciclar e reutilizar, Sayaka Ganz demonstra, com o seu trabalho, a beleza contida no acto de reutilizar objetos de plástico. Peças de uso comum, estáticas e sem nenhum atrativo especial, conjugadas pelas mãos de Sayaka, adquirem formas dinâmicas onde o movimento dos animais é capturado como numa imagem fotográfica.
As suas espantosas esculturas são criadas com o intuito de permitir que os objetos descartados transcendam a sua origem, passando a fazer parte de formas orgânicas, vivas e em movimento. Este processo é libertador para a artista, que afirma que as suas peças a ajudam a compreender o que a rodeia e a transmitir esperança, ao mostrarem que “mesmo quando há um conflito, existe também uma solução, onde todas as peças podem coexistir pacificamente”. Sayaka explora, de uma maneira improvável, a diversidade, a forma como elementos distintos e aparentemente impossíveis de conciliar criam conjuntos harmoniosos e belos quando vistos como um todo. Uma mensagem muito humana e atual, de inserção e colaboração, que entendemos quase sem darmos conta, já que o tema principal parece ser o animal.
© Sayaka Ganz.
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Existe ainda uma vertente ecológica no seu trabalho, que procura contribuir para a diminuição da quantidade de desperdícios. Sayaka acredita que, mais do que condenar o uso do plástico e a procura de uma vida mais cómoda, o papel do artista está em mostrar como dar um uso criativo ao que a sociedade descarta, revelando a beleza contida nos objetos. A sua filosofia assenta na assunção de que, quando consideramos algo belo, tendemos a valorizá-lo e, portanto, a desperdiçá-lo o mínimo possível.
O seu processo de trabalho começa, portanto, pelo colecionar de um infindável número de peças de plástico, divididas por cores, em 30 bidões, na sua cave; e passa pelo estudo detalhado da anatomia dos animais que representa. O objetivo é compreender como funciona a sua estrutura óssea e muscular e como se movimentam para, depois, iniciar a construção, baseando-se em cerca de três perspetivas distintas do momento a captar. A parte mais trabalhosa é a da edificação do esqueleto, feito de metal pintado à cor da escultura, já que este tem de suportar o peso da peça e acompanhar a sua forma. Passada essa etapa, chega a altura de brincar, acrescentado e retirando as peças, uma a uma, com uma paciência singular, até à forma perfeita: compreensível, mas não excessivamente densa.
© Sayaka Ganz.
© Sayaka Ganz.
Desta forma, Sayaka cria poesia visual através da reutilização do que o mundo julga não ter mais uso. Deixa suspensos animais e observadores num movimento congelado no tempo, em esculturas que, vistas ao longe, nos fazem prender a respiração, para logo a soltarmos, numa exclamação de surpresa, à medida que nos aproximamos e começamos a discernir os elementos que as constituem.
Docente na Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, partilha com os alunos as suas técnicas e ajuda-os a encontrar beleza onde esta parece não existir. Conheça mais sobre o trabalho desta artista que já expôs um pouco por todo o lado, no site Sayaka Ganz – Reclaimed Creations.
© Sayaka Ganz.
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