Tudo o que possuo
© Sannah Kvist.
Sannah Kvist é uma jovem artista sueca de 26 anos que notou uma mudança social significante na sua geração. Observando tanto o seu apartamento como os dos seus amigos e conhecidos, Sannah apercebeu-se de que todos os seus bens caberiam empilhados apenas num canto de uma divisão. Retratou então esta realidade no seu trabalho “All I Own” ("Tudo o que possuo"), em que cada estudante posou lado a lado com todas as suas posses.
Sannah conta que chegou a Estocolmo com um camião cheio de coisas e deixou aquele apartamento levando apenas as suas roupas, o computador e a máquina fotográfica, facto que a inspirou na criação do projeto. Segundo a fotógrafa, os jovens nascidos na década de 80 aprenderam a viver com muito menos do que os seus pais e tal deve-se a uma alteração profunda na forma de viver desta geração. Numa altura em que os empregos já não são para a vida e há a necessidade de mudar de cidade e até mesmo de país à procura de melhor formação e de novas oportunidades de carreira, o transtorno e a despesa de transportar consigo uma grande quantidade de bens acabou por torná-los dispensáveis. Cada jovem vê-se transformado numa nova espécie de nómada, sempre pronto a seguir em frente com pouco mais do que uma mochila às costas, encontrando em cada novo local não só uma nova casa, mas uma nova mobília, vivendo com o mínimo indispensável e não se sentindo pior por isso.
© Sannah Kvist.
Para esta juventude, a ideia de acumular bens de valor para, quem sabe, um dia vir a passá-los aos filhos, simplesmente já não se aplica. Vivemos numa época em que até a mobília, que habitualmente era passada através das gerações ou comprada com grande esforço e investimento para que fosse da mais alta qualidade, capaz de durar para as gerações seguintes, se tornou acessível, desmontável e útil durante uma década se tanto. “All I Own” pode, então, ser interpretado de, pelo menos, duas formas: uns optam por usá-lo como uma campanha contra o materialismo, questionando de quantas coisas realmente precisamos para sermos felizes; ao passo que outros vêem nessa geração (e nas seguintes) as gerações do descartável.
Mas serão estes jovens realmente menos materialistas do que os seus pais e avós? Ou serão somente os bens materiais que já não são os mesmos? Numa sociedade estável, em que a vida estava mais ou menos programada desde o início, seria natural que as pessoas se apegassem às suas casas e a tudo o que conseguissem colocar lá dentro. Atualmente, os jovens apegam-se muito mais a bens móveis, que levam consigo para onde forem e que quase fazem parte da sua identidade. Telemóveis, computadores, máquinas fotográficas, roupas, acessórios de moda entre outros, são os bens que querem ter sempre atualizados e de acordo com as tendências mais recentes, dentro das suas possibilidades. Por outro lado, é possível que seja a geração do descartável, uma vez que, com os constantes avanços tecnológicos e as abruptas mudanças na moda, os jovens, e não só, procuram ter sempre a última novidade, desvalorizando automaticamente tudo o que já não está na berra. Sendo assim, cada objeto tem valor durante um cada vez mais curto período de tempo, sendo então trocados por outro e depois por outro, num ciclo infinito.
© Sannah Kvist.
Obviamente, esta não é a única realidade para os jovens da década de 80, grupo em que me insiro: muitos de nós continuamos relativamente apegados à forma de vida dos nossos pais, num estado intermédio entre a vida estável e a nova vida nómada que aparenta ser a vida do futuro. Sannah soube contudo chamar a atenção para esta nova realidade, analisando com o seu olhar crítico a sua própria geração.
Conheça mais sobre o trabalho desta artista através do Flickr e do Thumblr, assim como do seu portfólio (que na altura da escrita deste artigo se encontrava em remodelação).
© Sannah Kvist.
© Sannah Kvist.
© Sannah Kvist.
© Sannah Kvist.
© Sannah Kvist.
© Sannah Kvist.