Krav-Magá: a arte da defesa
© Krav-Magá (wikicommons).
O surgimento do Krav-Magá deu-se num ambiente conturbado. Nos anos 30 e 40, o Oriente Médio estava sob controle dos britânicos. Nessa época, o criador do Krav-Magá, Imi Lichtenfeld, já participava de confrontos na capital da Eslováquia, Bratislava, e liderava um grupo de resistência contra os fascistas. Na mesma época, deixou sua terra natal rumo a Israel.
Antes de chegar ao país, Imi lutou no Oriente Médio em combates na Líbia, Síria, Líbano e Egito. Em 1942 recebeu licença para entrar na terra prometida. Ao chegar, juntou-se à organização Hagana. Na época, várias organizações tentavam defender a população.
© Grão Mestre Imi Lichtenfeld e Yaron Lichtenstein (wikicommons).
Depois da fundação do Estado de Israel e da criação das forças de defesa israelense (Tzahal), Lichtenfeld foi nomeado instrutor-chefe de preparação física para combate e defesa pessoal, o qual comandou durante 18 anos, até 1966. Nos primeiros anos depois da fundação do exército israelense os treinamentos ganharam vários nomes: Kapap, Krav Panim El Panim (combate corpo a corpo), Makel Bemakel (bastão contra bastão) e Yadaim Reikot (mãos vazias).
© Yaron Lichtenstein em demonstração (wikicommons).
Após sair do comando do Tzahal, se debruçou sobre o Krav-Magá, adaptando e adequando a técnica ao mundo civil, tornando-o acessível. Assim, abriu dois centros de treinamento: um em Tel Aviv e outro em Natanya. Já pensando no futuro do Krav-Magá, selecionou um grupo com seus melhores alunos que viriam a ser os responsáveis pela disseminação da técnica. Somente em 1978 foi fundada a Associação de Krav-Magá em Israel.
DISCÍPULOS Segundo o livro “Gênesis - A História do Krav-Magá”, dos pesquisadores Jeffrey Tuchman e George Mayers, apenas dez alunos receberam a faixa preta das mãos de Imi. São eles: Eli Avikzar, Rafi Elgarisi, Haim Zut, Shmuel Kurzviel, Haim Hakani, Shlomo Avisira, Vicktor Bracha, Yaron Lichtenstein, Avner Hazan e Miki Asulin.
Esse grupo foi dividido entre as academias de Natanya e Tel-Aviv. Cada um de seus alunos teve grande participação na disseminação do Krav-Magá. Foi em Eli Avikzar que Imi encontrou os elementos que procurava: movimentação suave, velocidade, rapidez e boa capacidade de reação. Com Yaron Lichtenstein escreveu dois livros. Alguns, como Rafi Elgarisi, já tinham praticado alguma outra luta, como o boxe. Imi também considerava importante que os alunos tivessem educação ampla em áreas desligadas como o Judô, Pugilismo, Aikido.
EXPANSÃO E DERIVAÇÕES O principal protagonista da expansão do Krav-Magá foi Yaron Lichtenstein, que teve papel crucial no processo de divulgação e ascensão da arte marcial. Os dez alunos de Imi funcionavam como uma unidade, ao mesmo tempo em que trabalhavam como instrutores, geralmente na cidade onde moravam.
© Lição de Krav-Magá na Escola de Paraquedistas, Israel, 1955 (wikicommons).
Na década de 1970, Eli Avikzar foi encarregado de ser instrutor-chefe na escola de preparação física do exército, enquanto Yaron era instrutor-chefe na escola de treinadores no Instituto Wingate.
Na mesma época, Yaron foi recrutado para ser instrutor no Serviço Secreto Israelense, fato que marcou a ingressão do Krav-Magá em uma instituição governamental e a desmilitarização da arte. O objetivo inicial era que Eli e Yaron trabalhassem juntos, o que não aconteceu. Uma das escolas foi dada à Eli e a outra, em Tel-Aviv para Lichtenstein.
Com o crescimento do número de alunos, Yaron voltou a sua cidade natal, Rehovot, onde fundou junto com Imi a BUKAN, com mais de três mil alunos. Com o passar do tempo, o Krav-Magá foi inserido nas escolas públicas de Israel. No Instituto Wingate, Yaron recebeu o título de treinador especializado em Krav-Magá, certificação que lhe dava autorização para conceder diplomas de instrutor.
O primeiro país a receber a delegação de instrutores e alunos foi a Holanda. Os livros que publicaram juntos também ajudaram na disseminação e num melhor entendimento dos já praticantes da arte.
OS GOLPES Como o objetivo do Krav-Magá é preparar o aluno para as agressões e violências do dia-a-dia, as aulas procuram simular esse ambiente das ruas. Alguns golpes e técnicas são comuns a outras artes marciais como o boxe, muay thai e jiu-jitsu.
Além dos golpes, o aluno deve desenvolver visão periférica e autoconfiança, elementos que só contribuirão para sua formação na arte. Tudo é permitido, desde cotoveladas a socos nas áreas íntimas, o que vale é a rapidez e a precisão dos movimentos.
© Krav-Magá aplicado como auto-defesa para mulheres (wikicommons).
O Krav-Magá trabalha com a transferência do peso para o adversário e visa atingir os pontos mais sensíveis do corpo. Dependendo da situação é recomendado atingir os locais letais. Veja mais nos vídeos:
FILOSOFIA E PREPARAÇÃO Como qualquer outro treinamento – seja de arte marcial, de um esporte – o Krav-Magá estimula a superação de limites. O aluno deve levar consigo um sentimento de competição e estabelecer metas que deverão ser alcançadas.
Porém, ao contrário de outras lutas e esportes, vai além do trabalho corporal, atingindo a mente e a espiritualidade. Uma das principais metas é a conquista da autoconfiança. Sendo uma arte de defesa pessoal, o Krav-Magá trabalha com o “não sentir-se ameaçado”, seja fisicamente ou não. Quando o aluno se sente capaz, consegue levar uma vida mais saudável física e mentalmente.
São quatro os princípios do caminho de vida do Krav-Magá: - Coragem: enfrentar obstáculos, não importa qual a sua dimensão; - Equilíbrio emocional: controlar as emoções, sem deixar que o medo se sobreponha e impeça a ação; - Paciência: a mudança acontece gradativamente, acompanhando o ritmo individual de cada aluno; - Respeito: respeitar a si próprio, ao próximo e o inimigo.
Portanto, para que a defesa seja precisa, corpo e mente devem estar em equilíbrio.
O objetivo principal do fundador do Krav-Magá era mostrar que qualquer pessoa pode aprender a se defender da violência do dia-a-dia. Imi se preocupou em passar sua postura otimista diante das adversidades da vida.
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