A poética lúdica e interativa de Flávio Nascimento
Nosso CAFÉ PÓS-MODERNO recebe Flávio Nascimento, que irá responder 13 perguntas e deixar um fragmento.
1- Quando você começou a escrever?
Comecei a escrever antes dos 20 anos de idade. Meu primeiro livro, “Treva”, foi considerado pioneiro da poesia independente no Brasil.
2- Escrever é um dom ou consequência de muita leitura e transpiração?
É talento, que precisa ser cultivado. É vocação e dedicação.
3- Quais os “clássicos” da literatura você mais admira? Quais autoras e autores influenciaram tua escrita?
Recomendo ler LIMA BARRETO, autor que precisa ser mais valorizado. Destaco POLICARPO QUARESMA, IZAÍAS CAMINHA e VIDA E MORTE DE J. M. GONZAGA DE SÁ, três romances.
Admiro muito o múltiplo MÁRIO DE ANDRADE, autor de MACUNAÍMA.
Sou fã de GUIMARÃES ROSA e seu GRANDE SERTÃO VEREDAS.
Como poeta, cito DRUMOND e BANDEIRA.
Sou influenciado pelo CORDEL NORDESTINO e pelo poeta russo VLADIMIR MAIAKOVSKI.
4- E na cena literária atual... Quem você já leu e gostou muito? Quem você indica, entre os contemporâneos, para as pessoas lerem?
Os poetas mais recentes de minha geração como GERALDO CARNEIRO, SALGADO MARANHÃO, BRÁULIO TAVARES, MANO MELO, entre outros.
5- Neste momento, qual é o livro que você está lendo?
Acabei de ler um livro de RUI CASTRO sobre o Rio de Janeiro dos anos 20 ["Metrópole à beira-mar"]. Recomendo todos os livros desse autor.
6- O que você já publicou até aqui?
Minha principal publicação é a Antologia de 30 anos de carreira, POESIA NA RUA, editora Ibis Libris, Rio de Janeiro, 2003.
7- Se alguém deseja conhecer sua produção literária, você recomenda começar por onde?
Pela Antologia, POESIA NA RUA.
8- Prosa ou poesia? Conto, novela ou romance?
Gosto muito de POESIA e BIOGRAFIAS.
Tenho lido livros sobre grandes músicos da Música Popular Brasileira: GONZAGÃO E GONZAGUNHA, JOÃO NOGUEIRA, DONA IVONE LARA, DORIVAL CAYMMI, RENATO RUSSO e outros.
9- Se ainda não dá para viver só de literatura, como você sobrevive?
Sobrevivi trabalhando como Professor do Município do Rio de Janeiro. Formado em Português-Literatura. Fiz mestrado na PUC, mas dava aula de Educação Artística e Artes Cênicas.
10- Em sua opinião, qual a relação entre arte (ou obra literária) e a política?
Não separo Arte de Política. Estão intrinsecamente ligadas
11- Em que momento da vida você sentiu... “eu sou escritor”.
Desde muito jovem.
12- E a música?
Gosto muito de música também. Toco pandeiro e um pouquinho de violão.
Faz 14 anos que me aposentei. Depois disso comecei a gravar minhas canções, que fiz ora sozinho, ora com parceiros maravilhosos que fui conhecendo pela vida, desde 1980.
Já gravei 7 CDs. Alguns estão no Spotfy. Procure por “Flávio Nascimento”, mas tem um Flávio Nascimento lá, cuidado, tem que identificar pela foto ou pela obra. Lá tem os CDs ORVALHO, ALDEBARÃ...etc.
13- Qual é seu próximo projeto literário? Ainda este ano?
Pretendo publicar minha obra completa como poeta que poderá se denominar: “EM BUSCA DA POESIA POPULAR PARTICIPATIVA”. Até o momento, somente o primeiro volume foi publicado, mas são 4 volumes. Tem uma produção de mais de 50 anos de trabalho.
Deixe algo de sua autoria para quem leu esta entrevista fazer uma “degustação”...
ANTI-POSSE
- Te amo tanto que te esqueço
- Para não me saturar da tua imagem
- É preciso que deixe de ser importante
- Tu me procurares,
- Pois na medida que me sinto livre, te vejo chegar:
- Quanto mais longe de ti, mas estás aqui.
- Vou ao teu encontro, como se não existisses
- E surpreendentemente, estás próxima do meu corpo.
- Eu te aguardo para viver a minha maior surpresa.
- Eu te aguardo, sem querer te esperar, daí a minha urgência.
- Faço um incêndio das lembranças tuas,
- Sem saber que eras as chamas em que me deixo arder.
- Eu me escondo na noite de tua ausência e me despejo
- (me despojo) nos braços de tua aurora chegante.
- Eu te amo, porque nada quero (cobro) de ti.
- Eu tenho tudo que és porque não te possuo
- Porque não é minha.
TITO E TECO (Trava-língua)
- Tico deu um teco na asa do pato
- Teco deu um peteleco no bico do marreco e derrubou o teco-teco
- Tico e Teco não se tocam, se entoca, se escondem, se malocam
- Tico e Teco, tico-tico, fazem telecoteco
- Com tamborim, agogô, pandeiro e reco-reco
- Rique-rique, nhoque-nhoque, Nheco-nhenco.
CECÍLIA MEIRELES E A NOTA DE CEM
- Voltou Cecília, ela veio de uma nuvem, de uma nave, de uma ilha
- Ela não veio cercada de sonho, de fantasia, de delírio de encanto,
- Cheirando a rosa, a dália, a lírio do campo.
- Ela não veio envolta me seda, em linho, em véu.
- Ela não veio sob a forma de serafim, querubim e anjo do céu.
- Ela não veio com jeito etéreo, volátil, aéreo
- Sob a forma de gueixa, de cinderela de musa,
- De cigana, de pitonisa, de medusa
- Ela veio com o peso do chumbo, do ferro, do dinheiro, da grana
- Ela veio com o sangue, o suor, a lágrima da luta cotidiana
- Voltou Cecília!
- Ela foi tirada de sua ilha de poesia, para circular na batalha do dia-a-dia
- Cecília, pra que você retornou?
- Para rolar na mão do banqueiro, do doleiro, do especulador?
- Pra fazer a fama do magnata, do burocrata, do doutor?
- Não, ela não gostaria de circular de maneira, tão fácil, tão banal.
- Em que mãos ficará perdida a sua face original?
- É ainda tranquila e serena a tua fisionomia, a tua fronte, a tua feição
- Mas em algum lado da nota se percebe a tristeza, a mágoa, a desolação
- Não é a mesma agora, estampada no vil metal
- A ternura de outrora, do seu rosto natural
- Ela veio fantasiada, pintada de ocre, de verde e de lilás.
- Isso não se faz!
- Tirar Cecília do seu canto de paz, de discrição e emoção verdadeira
- E fazer ela dançar em estranhos carnavais de ilusão financeira.
- Isso não se faz!
- Torar Cecília de seu sono profundo
- e jogar de novo na correria desse mundo louco
- Assim ela não aguenta.
- Depois de morrer voltar a arena dessa luta sangrenta elo poder.
- Dentro em breve ela vai ter de morrer outra vez
- E a nação brasileira vai ver a besteira que fez.
- Drummond não vale só cinquenta. Cecília não vale só cem.
- Deixem os poetas quietos em seu repouso no Além!
- Ora, se a poesia não é valorizada na vida material
- Deixem os poetas sossegados em sua vida espiritual!
- O Poeta não tem valor determinado pela Ciência da Economia
- Deixem os Poetas em paz do outro lado da existência,
- No Reino encantado da Poesia!
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