5 homens possíveis no cinema
A indústria do cinema cria arquétipos masculinos irreais e perpertua estigmas de gênero destrutivos. O reflexo disso são espectadores fascinados por personalidades impossíveis e socialmente agressivas. Quais são os homens possíveis que o cinema tem a oferecer?
A Mascára em que Vivemos (The Mask We Live in, 2015)
Homens desnudados. Sem arquétipos, apenas documentados como realmente são e dizendo o que nunca tiveram espaço para dizer. Um registro urgente de seres humanos que são socializados para agredirem mulheres e, imperceptivelmente, se auto mutilarem. Não são os homens a desgraça do mundo, mas suas masculinidades tóxicas seculares. É preciso repensar o que é ser homem.
Locke (Idem, 2014)
Um homem que precisa entregar 100 milhões de concreto no dia seguinte de trabalho. O provedor da família de classe média, mesmo voltando pra casa em seu conversível, não é concreto. Há rachaduras de anos atrás, algumas imperceptíveis, mas que desmoronam uma base aparentemente sólida. Ivan Locke tenta mascarar suas angústias colocando gesso em suas rachaduras, mas do dia pra noite, o gesso solta. O homem, supostamente provedor familiar, precisa dividir suas angústias, se não, construirá gerações de bases frágeis.
Boi Neon (Idem, 2015)
O homem sertanejo que cuida do gado, costura e faz chapinha. A vaidade masculina não é inerente ao meio urbano. O homem sertanejo tem aspirações e também é artista. Não é mais tempo de homens treinados para serem bois de rodeio, mas bois com a vivacidade da pintura do neon.
Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016)
O homem escuro. “O homem escuro não fala. Se falar, será xingado. O homem escuro não pode falar de solidão. Porque o homem escuro é um animal. O homem escuro é um opressor. O homem escuro é um bicho que deve xingar, bater, ferir. Pode fazer qualquer coisa. Exceto falar. O homem escuro não fala nem quando está com outros homens escuros. Se reúnem, confraternizam. Bebem, jogam. Tapinhas nas costas. Trocam ideia, jogam conversa fora. E as palavras continuam em silêncio.” (Trecho do texto de Fábio Kabral. Leiam.)
Madame Satã (Idem, 2002)
O homem que se recusa a acatar. Não acata a maneira como a socialização o molda, não acata a agressividade contra sua personalidade e, sobretudo, não acata o espaço ínfimo que lhe permitem em sociedade. O homem que não acata quer conquistar e ser reconhecido em novos espaços. Madame Satã, sobretudo, viveu para ser admirado e aplaudido, e ao não acatar, deu poder a novos homens que também recusavam-se a fazê-lo. O homem que não acata faz um bem para a eternidade.