Dormir no sofá é retiro espiritual para quem já desistiu de sonhar ao lado de alguém
O relacionamento que está prestes a ruir, dá sinais. A implicância antes leve, transforma-se em rabugice. Qualquer olhar atravessado é motivo para desencadear um bate-boca. Na briga atual, entram todos os assuntos que ficaram pendentes numa DR antiga. A memória consegue ser mais afiada do que a língua. Quem iniciou a briga só recua quando percebe que virou escândalo. Tenta contornar a situação antes que o vizinho do apartamento ao lado comece a esmurrar a parede para solicitar que as vozes alteradas se abriguem no silêncio. Dormir no sofá é retiro espiritual para quem já desistiu de sonhar ao lado de alguém.
Quando a relação se encaminha para o fim, dormir no sofá não é mais o cantinho da disciplina para pensar em argumentos e acordos de paz, é um acampamento dentro das mesmas instalações, mas com propósitos diferentes. Um dormitório avulso para pesquisar o preço do aluguel na rua mais afastada, de preferência em locais onde o encontro do ex-casal seja improvável.
Quem deixou de amar e está saindo de um relacionamento, usa qualquer atrito para embasar a decisão de ir embora. Tem por hábito dizer para o outro o que mais o irrita, depois sai de perto. Age como se a reação fosse um ataque de fúria desnecessário. Não bastasse a mágoa exposta no coração do outro, ainda se transforma num chato, num incendiário de memórias, num corruptor de emoções.
A resolução de continuar morando sob o mesmo teto enquanto as pendências burocráticas são resolvidas, é uma economia burra. Quem pede a separação, nem sempre respeita o último capítulo da história. Sabe que o comportamento hostil influi diretamente na condição emocional do ex- parceiro que ainda está tentando assimilar o baque, mas mesmo assim mantém as provocações.
Quem pede a separação, às vezes infringe as regras da boa convivência só para aumentar a distância e justificar que a união foi um equívoco. O desgaste posterior à decisão do rompimento é pior que o próprio rompimento. Quem pede a separação costuma alardear que foi o dono da última palavra. Esquece que o silêncio é um exímio juiz de paz.