É preciso romper
É preciso romper com verdades preestabelecidas, com paradigmas que nos tornam infelizes, com valores que não são os nossos. Nem sempre é preciso ser aceito e querido. Nem sempre é preciso pensar como a maioria. Nem sempre é preciso fazer o que esperam de nós. Vivemos sitiados por cabrestos e receituários de como pensar, sentir e agir. A publicidade nos seduz dizendo que se comprarmos o produto X seremos mais felizes ou realizados, relacionando cosméticos com uma vida amorosa plena ou cervejas com uma vida social bem sucedida, entre tantas outras associações convencionadas.
Os líderes religiosos nos persuadem a fazer jejuns para sermos mais amados por Deus. Nos fazem acreditar que a bondade e a caridade só podem ser exercidas dentro dos âmbitos institucionais.
O grupo social nos convence de que usando determinado tipo de roupa ou frequentando determinado tipo de lugar seremos mais descolados e consequentemente mais apreciados. Quantas garotas não perdem a virgindade às pressas para se sentirem integradas ao grupo de amigas? Por outro lado, quantos garotos renunciam ao amor de uma menina impopular para não serem zombados pelos amigos?
O namorado/namorada deixa nas entrelinhas que se fizermos isso ou aquilo seremos mais amados. As revistas de decoração nos dizem como devemos organizar a nossa intimidade. As de moda o que devemos comer e vestir. Os professores mais autoritários como devemos pensar. Os chefes tentarão nos fazer acreditar de que seremos mais bem sucedidos se ofertamos a nossa alma num canudinho. Profissionais da beleza colocarão minhocas na nossa cabeça sobre nosso aspecto para consumirmos mais produtos e serviços.
Enfim, o tempo todo estão cagando regras e tentando nos persuadir a fazer algo que não queremos ou que até pensamos querer por acharmos que nos trará algum benefício. O filósofo existencialista Sartre defendia a ideia de que estamos condenados à liberdade, isto é, somos responsáveis por nossos atos. Concordo com este ponto de vista, embora agregue a ele o olhar marxista que afirmava que as nossas escolhas sempre são condicionadas por nossas possibilidades. Isto é, fazemos o que queremos, mas também o que podemos. Não há nada mais duro do que lutar contra aquilo que nos ensinaram desde cedo. Mas é profundamente necessário se desejarmos uma vida mais consciente, mais lúcida, mais nossa.