The Babadook e o lado B da maternidade
The babadook , produção australiana de 2014, é muito mais do que um filme de terror assustador. Diferentemente do cinema tradicional de terror e principalmente o de horror que se baseia em lugares comuns e preconceitos, The babadook mergulha no drama de uma mulher sem forças para amar o filho depois de ter perdido o marido.
Nas produções de horror estadunidenses como os famosos Sexta-feira 13 e Halloween, já sabemos logo de cara quem vai sobreviver ao psicopata deformado e facínora: a moça gentil que não transa. As que transam e adotam uma conduta mais descompromissada ( como se transar fosse sinônimo de ser irresponsável e insensível) morrem normalmente em situações eróticas, depois do ato sexual ou durante ou usando poucas roupas. A morte brutal surge como uma espécie de castigo para as moças que ousam transar numa sociedade puritana.
No filme The babadook, diferentemente de produções mais comerciais e previsíveis, mergulhamos num mundo de possibilidades inusitadas e nos deparamos com um tema tabu, que ao contrário de reforçar preconceitos e estereótipos, visa questioná-los.
Amelia, uma cuidadora em um asilo, não consegue superar a morte do marido que ocorreu no dia do nascimento de seu filho Samuel, um garoto super imaginativo, que teme monstros terríveis. O garoto cria armas para atacar o tal do monstro imaginário e apresenta comportamento agressivo na escola, fazendo com que ele seja expulso.
A mãe tenta conciliar seu trabalho com Samuel, em uma vida bastante difícil e precária , tanto no âmbito material como emocional. O menino extremamente complicado e com imaginação fertilíssima não permite que a mãe durma, o que cria um desgaste emocional e físico em Amelia enlouquecedor.
A mãe que tenta fazer o seu melhor mesmo sem forças para isso, começa a desenvolver um ódio profundo pelo filho, se assemelhando a um verdadeiro monstro. Ela joga na cara de Samuel que preferia que o filho tivesse morrido no lugar do marido. Esta frase é provavelmente mais aterrorizante do que qualquer monstro dentro do armário ou debaixo da cama.
A imaginação e conduta do filho fazem o monstro que existe dentro da mãe sair do sono profundo e é neste sentido que o filme se torna realmente intenso e desafiador, ao por em xeque a organicidade do amor materno. Como todo filme de terror que se preze , a teoria de The babadook não aparece de forma intelectual simplesmente. É um filme altamente sinestésico, que mexe com nossas emoções de forma sofisticada e instigante, diferentemente de produções meramente catárticas que provocam reações exageradas, que se dissolvem por completo poucos momentos ou horas após terminar de ver o filme.