De repente você não queria que desse certo
Cena do filme Thelma e Louise. De repente, elas queriam um fim trágico realmente
Sim, muitas vezes lutamos bravamente por um ideal, por um projeto, para concretizar uma ideia. Muitas vezes falamos para o mundo e para nós mesmos que queremos A , mas na verdade queremos B. E o pior de tudo: a gente nem desconfia que estamos enganados, que estamos mentindo para nós mesmos. Que loucura! Não, não é loucura. É apenas um conflito entre o seu consciente e o seu inconsciente.
Quantas vezes não falamos "Foi mais forte do que eu"? Sim, pelo menos uma vez na vida falamos ou pensamos isso. E se não falamos nem pensamos, a vida deve estar bem sem gracinha...piadas à parte.
Quando não resistimos a uma ação que não queremos entre aspas praticar, estamos deixando o nosso sujeito inconsciente agir.
Muitas vezes, somos mais autênticos e mais nós mesmos, quando pisamos na bola, quando falamos demais, quando fazemos algo ousado e/ou arriscado. Quando não seguimos o script social e surpreendemos aos outros e a nós mesmos.
"Eu não sei o que deu em mim" é outra frase que faz parte do nosso dia a dia. Sim, às vezes, a gente deixa escapar algo que deveria ficar bem guardadinho para não criar incômodos e conflitos desnecessários. Mas por alguma razão, a coisa vem à tona. A gente não consegue segurar e depois temos que suportar as consequências, pois para toda ação há realmente uma reação inversamente proporcional.
Quantos casais não fingem tentar se acertar, mas na verdade só boicotam a relação com alfinetadas, com um comportamento desinteressado em relação ao parceiro? Quantas vezes , por meio de atitudes aparentemente desimportantes, não tentamos arrumar motivo para um conflito? As chamadas brigas bobas. Briga-se na hora de escolher uma pizza, mas na verdade o problema não é a pizza e sim alguma questão mal resolvida ou ainda o desejo inconsciente de se livrar da relação, sem precisar chegar para o parceiro e falar: "Quero terminar a relação".
Quantas vezes não sabotamos uma relação feliz por que temos medo da felicidade? Ou por que acreditamos na teoria de que pessoas infelizes são mais inteligentes e interessantes? Sim, existe certo gozo na infelicidade. Existe certo gozo em estar sozinho ou mal acompanhado. Existe certo gozo em estar com a pessoa errada, em se sentir pouco compreendido. A solidão , tanto a individual como a solidão a dois, proporciona uma aura heroica à nossa vida banal.
Ou ainda, por medo de perder a felicidade um dia , já abrimos mão dela logo de cara. Enfim, como nas tragédias gregas, antecipamos o sofrimento.
Quantas pessoas dizem querer seguir uma determinada carreira, mas nada fazem para tal. Abusam de álcool na véspera de entrevistas de trabalho ou dizem coisas inconvenientes durante o processo seletivo para fracassarem e se livrarem de algo que na verdade só é desejado pelo sujeito consciente.
Quantas pessoas reclamam do desemprego, mas quando recebem uma oportunidade de trabalhar, fazem de tudo para fracassar?
Não é à toa , que muitas vezes, quando uma pessoa afirma muito uma coisa, ela leva outras pessoas a acreditarem no contrário. Como assim? Uma pessoa que afirma constantemente ter feito uma escolha certa pode estar tentando se convencer de tal pensamento. Muitas vezes quem diz sim , na verdade não quer. Em outros casos, quem mais nega, é aquele que mais quer de fato.
Voltando ao caso de processos seletivos , podemos pensar numa situação bastante interessante: a pessoa precisa tanto do emprego ou o deseja tão ardentemente que acaba transmitindo uma imagem de desinteresse. Como assim? A pessoa vai sofrer tanto se não conseguir aquela vaga, que por orgulho ou medo de parecer frágil, demonstra que aquela vaga não é tão importante assim. Quantas pessoas não ficam impassíveis quando o parceiro amoroso termina uma relação? Muitas vezes, estas pessoas passam uma imagem de grande equilíbrio emocional ou simplesmente demonstram não se importar com a relação. Mas na realidade, elas estão paralisadas pelo sofrimento. Elas estão tão paralisadas pelo sofrimento que nem conseguem perguntar o porquê do término. Ou ainda , não perguntam por orgulho, amor próprio ferido.
Em resumo: cada vez mais me convenço da importância da terapia para termos uma vida com mais qualidade e sentido, exorcizando nossos fantasmas, jogando luz sobre eles e percebendo que muitas vezes o nosso pior inimigo somos nós mesmos. Nós estamos sujeitos à situações felizes e infelizes. Estamos sujeitos a ganhos e perdas. À pessoas que nos amam e que nos odeiam. Cabe a nós escolher quem queremos por perto: quem nos faz bem ou quem nos faz mal? Cabe a nós escolher transformar a crise em oportunidade e aprendizado ou sofrer a vida inteira por uma perda. Cabe a nós correr atrás do nosso "eu" ou ficar se enganando a vida inteira. Não digo que não existem problemas externos como injustiças , maldade, inveja. Existe sim gente que tenta nos prejudicar. Existe sim situações adversas. Mas não podemos utilizar os problemas e inimigos externos para deixar de lutar e desistir da vida e da felicidade.