Hugo Cabret: Uma homenagem ao cinema
Um garoto órfão, que perambula por uma estação de trem em Paris, rouba pão e conserta relógios. Essa é a história que nos é apresentada primeiramente no filme A Invenção de Hugo Cabret (Hugo) que foge de gêneros e conquista o público com a história marcante e encantadora que passa a contar (que por incrível que pareça, não é sobre Hugo).
Hugo, um garotinho de grandes olhos azuis vê sua vida desmoronar quando se torna órfão e é obrigado a acompanhar seu ranzinzo tio Claude. Porém o garoto tem um objetivo, consertar uma espécie de robô deixado pelo seu pai, mas para isso era necessárias peças das quais não tinha e um velho manual que lhe foi roubado, mas toda essa situação acaba sendo realmente útil para Hugo pois através dessas reviravoltas conhece Isabelle que se torna sua principal cumplice.
Em primeiro ato a trama não nos entrega a real intenção do longa, mas no segundo ato quando isso acontece é de dar um pulinho na cadeira e agradecer baixinho ao Martin Scorsese por escolher homenagear importantes nomes dos primórdios do Cinema. É de se apostar que a maioria das pessoas que assistem não tinham ideia como a sétima arte surgiu e como os irmãos Lumière tanto quanto George Mélies contribuíram para o cinema ser o que é hoje, o que acaba a se tornar gratificante a intenção do longa, mas que por ora se torna equivoca quando se trata da “invenção do cinema”, honra muitas vezes dada a Thomas Edison, o qual foi um pioneiro editando imagens pela primeira vez no filme Life of an American Fireman (1903) junto com Edwin S. Porter porém, não o inventor propriamente dito.
A Invenção de Hugo Cabret nos surpreende com a quantia de história que aborda e como a trama sai dos trilhos em uma perfeita sintonia, o cinema apresentando o cinema, colaborando de forma cultural com uma narrativa intrigante e apaixonante. A Viagem à Lua, o filme que nos é mostrado em Hugo é semelhante a magia, com fusões e sobreposições de imagens e efeitos que até então não eram vistas em outra parte do mundo, faz com que George Mélies seja considerado o pioneiro em efeitos especiais na cinematografia. Se Auguste e Louis Lumière inventaram o cinema, George Mélies o aperfeiçoou.
No entanto, no decorrer da trama, nos emocionamos, nos espantamos e somos privilegiados em presenciar imagens um tanto quanto esquecidas em L’Arrivée D’um Train à La Ciotat (A Chegada do Trem na Estação) de 1895 e Sortie de L’usine à Lyon (Empregados deixando a Fábrica) de 1896, produções amadoras dos irmãos Lumière, pequenas exibições que hoje são consideradas épicas e grandiosas para a história do cinema.
O filme de Hugo passa a narrar a história de George Mélies e sua biografia até sua decadência, surge então, um fato real e marcante, onde o próprio George conta como toda a sua fortaleza foi para água a baixo. Durante a Primeira Guerra Mundial a indústria de filmes da Europa foi devastada, causando grandes prejuízos e interrupções de sonhos de quem iniciava a carreira no cinema. Mélies que fez ao todo mais de 500 filmes comparáveis a magia, também foi vítima, e observou perto demais sua ruína.
Scorsese acertou o pulo mais uma vez em suas produções. Merecedor de cinco Oscar, A Invenção de Hugo Cabret, relembra, e homenageia o próprio cinema e Mélies que por vezes foi esquecido em uma loja de brinquedos na estação de trens de Montoarnasse.