estabilidade é uma ilusão: a felicidade como forma de controle
Mas não é bem assim. Ninguém te obriga a ser feliz.
Há, obviamente, uma pressão social - e funcional, segundo alguns pontos de vista, mas que no fim servem ao capital(ismo) – para que todo indivíduo atinja esta felicidade. Mas a grande chave da questão é que esta pressão social é apenas uma forma de controle do indivíduo, que se obriga a acreditar na ilusão de que a felicidade é uma meta para ser atingida. É uma forma de controle velada, mas nem tanto. Esta forma de controle exercida através da pressão social com o objetivo de atingir as prioridades e crenças universais de um indivíduo isolado é vendida de várias formas; na Coca-Cola e a fábrica da felicidade, na família margarina, no dízimo...
A felicidade é o limite, o objetivo, o ápice. Não há nada além da felicidade, pois ela é a meta. Não há nada para se questionar. Sobre a felicidade paira apenas a conformação e aceitação do estado. A tristeza questiona e é aí que mora o perigo (e é por isso que a sociedade se consolidou em cima da venda da felicidade e não da tristeza). Perigo para quem controla e via de libertação para quem vive. Não há nada pior para o dominador do que ter seu poder questionado.
A partir do momento no qual o indivíduo, como ser consciente e questionador, se permite ser controlado, é ele quem escolhe comprar a mentira da felicidade. A preguiça de questionar o torna escravo da vontade do outro, que abusa do poder (que é dado para o dominador tanto por ele mesmo quanto pelo dominado) em função de suas próprias vontades. E por isso, o dominado nunca está feliz. A busca é pela estabilidade financeira, amorosa, social, mas quando – e se – atingida não reflete da maneira como deveria, ou pelo menos como foi propagandeada.
Se todo indivíduo se tornasse autoconsciente de sua condição, aconteceria uma revolução em massa; relacionamentos não seriam destruídos pela crença e tentativa frustrada de serem eternos (pois seriam apenas vivenciados sem uma meta quantitativa e qualitativa para cumprir ), a burocratização da vida seria desconstruída aos poucos e o Estado teria menos poder sobre o indivíduo (ou melhor: o indivíduo perceberia que o Estado não exerce tanto poder sobre sua vida). Obviamente, todo este contexto no qual o indivíduo está inserido serve à uma estrutura social e burocrática com uma finalidade principal: controle. Enquanto somente uma minoria tomar consciência de sua condição, a infelicidade transmuta de libertadora para opressora, pois não há espaço para questionar em um mar de felicidades ilusórias.