31 de julho: por que devemos voltar às ruas?
Qual é o teu estilo de esporte, físico ou mental? Se for o primeiro, temos o exemplo do futebol. Dominar o meio-de-campo é essencial para trocar passes e manter o time no ataque, em busca da vitória. Quem controla o meio, em geral, controla o jogo. Se for o segundo, falo do xadrez. Assim como no futebol o domínio do meio — neste caso, do tabuleiro — é essencial para as pretensões do jogador, que é chegar até o rei. Derrubar o rei é o gol do xadrez.
E tomar as ruas e os espaços públicos através de militância e pressão é o equivalente na política a esses dois exemplos. Meios de comunicação, universidades e militância em espaços públicos. Eis a lista tríplice dos locais fundamentais para se ocupar em vista de se pôr em vantagem frente aos adversários políticos.
Quem seriam eles? Não é segredo: a esquerda, os populistas, os socialistas e demagogos em geral. Todos aqueles que assistiram babando de ódio ao povo brasileiro tomar às ruas para destituir um governo de esquerda, capitaneado por Dilma, a búlgara, e seu padrinho Luís Inácio.
Se por mais de 13 anos eles conseguiram vender utopia aos pobres para colher poder à elite dirigente, só foi possível porque, antes de chegar ao poder, eles ocuparam com inteligência gramsciana os três espaços supracitados como indispensáveis. Não é por acaso que, tendo se levantado uma reação contrária nesses três ambientes, a fúria dos monopolistas saltou a proporções inéditas, revelando de vez a sanha intolerante de seus apoiadores. A quem seduz através do engodo, debate algum interessa, com o risco de ter a mentira exposta. A perda da hegemonia é, sobretudo, a derrocada de qualquer projeto de poder perpétuo. A divergência democrática inibe aos autoritários. Não por outro motivo, assim que surgiu, passei a militar nas ruas através do Movimento Brasil Livre. Entender que a esquerda sempre empurrou suas pautas — digamos, de mais Estado — através de grupos de pressão ao ocupar os espaços públicos, foi o que me deu a certeza de que seria um erro não me inserir e participar do primeiro movimento social de direita liberal fundado em nosso país.
Assim que MBL, Vem Pra Rua, e tantos outros surgiram; não como guias da massa, mas como disseminadores de valores marginalizados que suspiravam por notoriedade; houve o despertar de uma multidão que, em sua maioria, jamais tinha participado ativamente de atos políticos, sobretudo por nunca ter se sentido representado nas manifestações violentas, odiosas e iconoclastas que a esquerda e seus instrumentalizados movimentos sociais e estudantis promoviam. A explosão difusa do inverno de 2013, que mobilizou milhões de pessoas por uma mudança incerta, mas urgente, gestada no seio de grupos ultrassocialistas, deu à luz a um filho verde-amarelo e decidido, com um objetivo enfim claro: o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Dissipou-se o monopólio das ruas e teve início um novo tempo.
Não é preciso que eu enumere os feitos que, nos manifestando nos últimos 19 meses, conquistamos. Todos sabem. Entretanto é primordial que entendamos para onde estamos caminhando e por que voltaremos às ruas no dia 31 de julho.
Naturalmente que a pauta número 1 é a de confirmarmos aos senadores que o anseio popular não se modificou e que, como antes, continuamos resolutos e inabaláveis na confiança de que não há outro caminho além daquele que expulsa definitivamente Dilma e o PT do centro de decisões. Junto a isso, e não menos importante, o apoio à Lava-Jato, a mani pulite brasileira, que precisa continuar passando o Brasil a limpo.
Mas também, por compreendermos que o impeachment é só o primeiro passo em uma guerra de toda uma vida, não se pode ignorar aonde nos posicionamos ao chegarmos até aqui. Realizar as maiores manifestações políticas da história do Brasil, quebrando o monopólio da esquerda nas ruas, deu-nos, em um setor fundamental, o domínio do meio-de-campo, ou do centro do tabuleiro, que eles insistirão em resistir ceder ao promover, ainda que minguados, atos contra Michel Temer.
Nossa responsabilidade no dia 31 do próximo mês não é apenas a de fechar a tampa do caixão, afastando de vez o fantasma de Dilma que insiste em assombrar nossos sonhos; mas é a de nos mantermos vigilantes e presentes nas ruas, nas galerias legislativas, nos meios decisórios e em todos os espaços públicos que nos forem proporcionados, para que possamos pautar o rumo político de nosso país através de nossos valores e ideais. O engajamento efetivo nestes novos movimentos sociais, ou o comprometimento de se fazer presente em atos ou financiá-los, é o que manterá o espaço tomado e empurrará sobre a classe política as mudanças que clamamos, como se cada um de nós fosse um peão artilheiro em um golaço de Kasparov.