Hammerfall e a leveza do metal
Quem disse que o Heavy Metal é música do diabo ou demônio está generalizando ao extremo, ou não entende muito bem as letras em inglês. A banda sueca Hammerfall prova que nem sempre isso é verdade – vários vocalistas desse tipo de banda já disseram ir na igreja nas manhãs de domingo – pois, muitas das suas letras trazem pensamentos profundos dentro de uma temática histórica e espiritual. Realmente, as bandas de Heavy Metal trazem muitas pesquisas nessa temática espiritual e ocultismo como Therion, Gamma Ray e bandas que trazem a temática histórica como o Iron Maiden, por exemplo. É claro que existem bandas satânicas que trazem a temática satânica, mas acredito que seja apenas um modo de desafiar a cultura vigente, como algumas bandas dentro do cenário nórdico que trazem novamente a era vinking (sem as Cronicas Saxônicas que alguns vlogueiros acreditam piamente).
A banda já mostra isso no nome que deram, pois “hammer” significa martelo e “fall” quer dizer 'cair", numa tradução livre ficaria “O Cair do Martelo” ou o “Martelo Caído”. Muito provavelmente uma alusão ao deus do trovão Thor, que os nórdicos (e de onde a Suécia faz parte) sempre acreditaram como sendo o deus mais poderoso no cenário germânico. Não nos iludimos como um cara loiro, forte, com capa vermelha, uma armadura azul (sempre aludindo a bandeira norte-americana), com o martelo Mjorhir cromado e irmão de Loki (os dois não poderiam nunca serem irmãos), que a Marvel desenhou. Mas, era um cara alto, forte e ruivo, nada de barba feita, era barbudo e não voava, tinha uma carruagem puxada por dois bodes e era casado e com dois filhos, e já tinha outros dois com uma giganta. Então, em meados de 1993, se teve novas levas dentro do metal e, sem exagerar, o Hammerfall com seu Legacy of Kings tomou um rumo interessante dentro do cenário do metal, o power metal com seu cavaleiros e espadas.
Mas, uma música em especial me fez refletir muito sobre a letra em si, pois parece muito com ensinamentos muitos profundos dentro do budismo e, não menos, do cristianismo. A música “Remember Yesterday” é daquelas baladas gostosas de se ouvir, mas que a letra te leva para muitas reflexões não só sentimentais mas, também, reflexões sobre a vida e sobre a essência do ser humano. O refrão é muito interessante:
“Lembre-se de ontemE pense no amanhã
Mas você tem que viver hoje
Ontem solitário
Não me deixe com a mágoa
Pois eu tenho que viver hoje”
Isso não é um pensamento profundo sobre o tempo e o que fazemos com o tempo? É tão profundo que está aberto para varias interpretações, que podem ser de ordem sentimentais (como a maioria insistem em colocar) ou são ensinamentos espirituais contra a ansiedade, dai vamos ir muito além do que meras divagações. A música começa de uma indagação sobre a dificuldade para continuar e vem uma voz agridoce, ou suave, de tempos atrás que diz algo. Na verdade, o que parece é que ele argumenta com uma pessoa que, mesmo assim, não consegue ler as entrelinhas daquilo que foi dito, que até tentou mas... ele quer saber o que esta errado. Há uma passagem do evangelho que diz: “muitos serão chamados, mas poucos serão os escolhidos”, ou seja, muitos poucos leem as palavras ensinadas e poucas pessoas entendem essas palavras que são “vozes agridoces” para nos levar à consciências muito maiores. A música fala da ansiedade da procura de uma explicação, mas tudo está explicado dentro do mundo e dentro de contextos inúmeros. Quem não se sentiu na encruzilhada de algo que não conseguiu sair?
Depois, ele diz que é tarde demais para voltar no tempo e olhar nos ombros e talvez um dia volte novamente. Esse voltar novamente não seria outra vida? No budismo, diferente do que a maioria acredita ter ligação com a reencarnação espirita, se renasce e não se reencarna, porque há uma transferência de frequência da consciência. Cada pessoa atrai aquilo que a sua frequência da consciência permite chegar dentro de muitas vidas. Então esse “talvez volte novamente” é um renascimento daquilo que ficou pendente e que não volta mais. Alias, na verdade, o budismo diz que não existe outro passado, pois o passado é mera lembrança de algo que aconteceu e sim, dai sim pode manter ligação com o espiritismo kardecista, a situação pode acontecer igual, mas não é a mesma. Talvez, sempre voltamos aquilo que pendemos dentro de um aprendizado e esse aprendizado é o que levamos conosco por toda a eternidade ai afora. Dai chegamos em outra parte que ele diz que toda manhã ele acorda para ver o dia recém-nascido para levar adiante a chama, até o fim dos tempos. Em inglês o termo “flame” tem vários significados, pode ser chama, pode ser fogo, pode ser até paixão, depende do contexto. Nas filosofias orientais – que chamo de orientações espirituais - o fogo simboliza a renovação naquilo que existe e o deus hindu Shiva – que faz a dança do criação e a dança da destruição – usa o fogo para isso. Yahve usa as chamas para falar com Moisés no monte Sinai e os relâmpagos, para ditar as leis que deveriam seguir. Prometeu levou as chamas da sabedoria para a humanidade e foi punido, por Zeus, a ter o figado comido por toda a eternidade.
Mas podemos ir pelo lado do amor também – por que não? – afinal o amor é o fogo duplo de Shiva, pois o amor constrói as ligações, laços, ate cria outras vidas. Ora, o amor tem o outro lado, a paixão destrói para possuir e essa ansiedade tem o poder de desconstruir tudo que poderia ser contribui dentro da verdadeira razão. Mas certamente, a frase diz o nosso conhecimento que levamos por toda a eternidade, por todos os limites ate o infinito e que adquirimos sempre ao acordar pela manhã. Assim você adquire o caminho como está no final da musica:
Oh, oh, oh, não saia do caminhoE não tenha pretensões sobre o futuro
Oh, oh, oh, nunca viva uma mentira
Você não sabe que o amanhã nunca chega
isso não é uma música totalmente com um código de espiritualidade? Cristo sempre dizia que ele era o caminho, a verdade e a vida e por ele chegaríamos ao reino dos céus. Em outra passagem ele diz para entrar na porta estreita, porque larga é a porta e largo é o caminho da perdição, e muitos entram por ela. Porque estreita é a porta que leva a vida e apertado é o caminho que conduz e pouco o encontram, ou seja, ele estava dizendo que as pessoas sempre querem ir no caminho fácil, o caminho que não precisa ser achado porque está ali e todo mundo está vendo e seguindo. Mas aquele que sabe da sua senda e sua convicção não se desvia da sua procura, achou o caminho dentro do seu coração para seguir. A mentira não é o caminho largo? Shakiamuni Buda dizia que temos que seguir sempre o caminho do meio – não é isso que cristo também diz? – porque devemos sempre ter uma conduta reta, sem maiores pretensões para o futuro e sim, viver o agora.
Quem disse que essas musicas não passam coisas boas não entendem os desígnios da vida.