Manchester à Beira Mar e a Dor de Existir
É indizível a dor sentida pelo ser humano perante a uma tragédia seja ela qual for. Ainda mais quando é inesperada. Assistir ao filme Manchester à Beira Mar é preciso coragem. Casey Affleck desde a primeira cena soube como interpretar a imensidão da dor, da depressão, da melancolia. Do luto, da morte, da vida pouca e finita.
Tudo nele, só há um único significante a dor sentida exalada pelos poros e nos atos contidos de dor aguda e gritante. O peso da dor ele carrega sob as costas curvadas. No olhar profundo e de tão profundo se olha mais fundo na vida, mais fundo na dor, no abissal da dor. Seu personagem Lee, espia a dor e, tanto mais se vê, se faz o caminho dor, ou seja, o seu destino no devir da dor no homem, na tomada dessa escolha não há ânimo.
Talvez a comunicação na ordem do impossível faz com que ele não consiga associar a elaboração dos seus sentimentos. É uma prisão para qualquer um. A troca com o outro nos possibilita a linguagem. O outro nos devolve a fala e ai existe o diálogo.
Lee é talvez um vivente que escolheu estar morto. Chicoteando a própria alma. A decadência da sua vida é tornar ela uma escravidão ao trabalhar limpando a "m" dos outros para justificar e simbolizar o trauma que presenciou. Tentando talvez, limpar a própria barra, porque ele se culpa pelo o ato ocorrido. Se condena. Ele não consegue sair da sua própria condenação. Ele sangra, ao invés de comunicar o que o abalou. Ao invés de até surtar...
Ha tantos traumas não trabalhados. Algumas pessoas escolhe viver a vida assim dessa maneira. Algumas não se dão conta, só conseguem ter um lapso de lucidez diante da morte. Dai a vida passou e o vivente se condena por toda uma eternidade.
E essa dor, é a dor de existir... tocar a vida, ir em frente.
Muito bem dirigido por Kenneth Lonergan e talvez seja um dos filmes favoritos para o Oscar.