A verdade (não dita) sobre o smartphone e a internet
Diariamente, 59 milhões de brasileiros acessam o Facebook, de acordo com uma pesquisa feita pela consultoria eMarketer, isto é, mais da metade da população compartilha, curte e comenta postagens pessoais e de seus amigos publicamente com muita frequência. Outras redes sociais muito usadas são o Instagram e o Snapchat, nas quais os usuários compartilham fotos e vídeos para seus denominados “seguidores”. Você sabe bem, pois deve ter ao menos um deles em seu celular. Em suma, todos estes aplicativos têm o mesmo objetivo: expor alguém ou algo.
Para comprovar, basta correr os dedos pela tela de seu smartphone, e uma onda de selfies de pessoas em passeios “incríveis” certamente estarão registradas e prontas para receberem seu “like”. Isso acontece porque a grande maioria dos adolescentes e jovens estão viciados em internet sem ter a menor noção do quanto esse hábito os afeta.
Conseguir desconectar-se totalmente e aproveitar mais o ambiente e as pessoas se tornou um grande desafio. Abraçar, conversar frente a frente e deixar o celular de lado com mais frequência é saudável e prazeroso, mas também não é nada fácil e confortável. Muitas pessoas desenvolvem um comportamento nomofóbico na primeira tentativa de afastamento.
Derivada de uma expressão britânica, o termo Nomofobia surgiu a partir da língua inglesa originalmente como No-Mo ou No-Mobile, que significa “sem celular”. A comunidade psiquiátrica adotou a definição para si, chamando de nomofóbicos as pessoas que não conseguem se desligar de seus celulares em nenhum momento. O transtorno comportamental é caracterizado pela ansiedade, perda de contato com pessoas próximas devido o uso inconsciente e pelo desespero anormal ao perceber que pode ficar sem o aparelho.
Em outras palavras, é impossível cogitar a possibilidade de sair e esquecer o celular em casa. É como uma crise de privação, o indivíduo precisa ter muita determinação e autocontrole para superar a ausência do aparelho. Mas é claro que ninguém quer passar por isso, então, deixamos o celular sempre por perto. Por exemplo, dormimos com ele embaixo do travesseiro, levamos conosco para o banheiro, além de sempre andarmos com o carregador na bolsa ou no carro. Por isso que a Nomofobia é o mais novo transtorno comportamental intrínseco à sociedade tecnológica atual: porque simplesmente não conseguimos ficar longe do celular. Para comprovar, uma pesquisa feita pela revista Time e pela Qualcomm apontou que 35% dos brasileiros consultam o celular a cada dez minutos, ou menos.
Ninguém sabe mais o que é sair com os amigos e deixar o smartphone um pouco de lado por causa do desejo da conectividade. Principalmente, por causa do novo queridinho de todos: o WhatsApp, que chegou para revolucionar a comunicação de todas as pessoas. Com mil e uma coisas acontecendo na vida online, como é que se pode viver offline? Conexão com a internet, então, nunca foi tão essencial.
Assim, surgiu a geração da superficialidade. As pessoas têm a tendência de projetar para as outras uma realidade que não é verdade. Existe uma pressão não-dita que o faz mostrar para seus amigos que você está bem o tempo todo. Pensamos: “Se todo mundo está postando fotos maravilhosas de viagens internacionais, é claro, eu preciso dar um jeito de fazer com que o meu perfil seja tão interessante quanto o deles". Estamos transformando nossos perfis nas redes sociais em diários públicos. Ganhar likes é bom para o ego, mas não é necessário.
Foi-se o tempo em que a balela do “só estou tirando foto para guardar de recordação” era considerável. Tiramos fotos para publicá-las nas redes sociais. No entanto, quem quer viver momentos muito mais legais do que a timeline diz, aproveitando o que está acontecendo de verdade? Parece que mais ninguém.
O smartphone acentuou um problema de relacionamento interpessoal muito sério. O fato é que, às vezes, as redes sociais provocam uma falsa sensação de aproximação. As pessoas não socializam mais como antes, ao invés disso, ficam o tempo todo conectadas. Isso chega a ser deprimente. Antes do smartphone, aproveitávamos tudo com muito mais intensidade. Com a facilidade da interatividade digital, o contato mais íntimo com os outros diminuiu em todos as esferas relacionais.
A sorte é que esse problema tem solução. Existem muitos meios de se livrar da nomofobia. Pode ser por medidas pessoais ou terapia conduzida por um especialista, com o auxílio de medicação (nos casos mais graves). Além disso, o indivíduo também pode buscar outras fontes de prazer, como explorar hobbies e atividades físicas.
A grande questão é que o smartphone e a internet não são os vilões da história. Eles foram criados com a finalidade de nos ajudar e serem um apoio para as mais diversas ações do cotidiano. Nós é que deturpamos o uso deles e os transformamos em armas apontadas para a nossa cabeça. É preciso cautela, bom-senso e principalmente autocontrole. É muito difícil que as pessoas deixem de usá-los, pois estas ferramentas são os principais meios de contato para quem se relaciona à distância e para o trabalho. O ideal é o uso equilibrado, afinal, a internet não pode resolver todos os nossos problemas.