lembrar do seu cheiro e desfazer-se no ato
Desde criança, o amor me chamava a atenção, os romances nas novelas, nos filmes, os gestos e os cuidados nos desenhos. Me indagava o que unia, o que fazia o amor ser o amor.
Cresci e quanto mais respostas eu tinha, mais questionamentos também. Até que cheguei na vivência de um amor e sim, as perguntas continuavam a crescer, mas já não era importante e essencial respondê-las. Eu podia sentir.
Passei pela racionalização de dizer que o amor é reconhecimento. É ser reconhecido pelo outro, visto, percebido e sentido. Refleti a respeito da sorte de quem consegue viver um amor tranquilo.
Sei que muitos falam que o amor é sereno, e tudo que se diferencia não é amor. Creio ser uma representação social que deixa a sociedade cada vez mais longe do ato de amar. A partir do momento que uma relação está sendo construída, os percalços, as dificuldades, e os obstáculos vão aparecer. Como diz a canção, quem um dia irá dizer que existe razão para as coisas feitas pelo coração?
O amor não é só feito de duas pessoas, há todo um meio que também altera a vida individual desses seres humanos que se relacionam. Os processos de vivência requerem uma energia, uma disposição, uma coragem e uma audácia. Podemos concordar que aos poucos, essas características estão cada vez mais raras.
Amar deixa marcas. Deixa cheiro. Deixa saudade.
Amar é sorrir de longe ao ver quem ama.
Amar é construir-se e se reconstruir com o outro.
Amar é atenção. Conexão. Comprometimento.
Amar é respeito. Acolhimento. Cuidado.
Falei tudo isso, só pra dizer que lembrar do seu cheiro é desfazer-se no ato. Nós foi a minha melhor construção, queria que voltasse a ser nossa. Me desfaço na saudade. Sigo de formas infinitas, sabendo que o amor marca.