5 livros para se apaixonar, ainda mais, por poesia
O arco e a lira, de Octavio Paz
Neste livro, o autor mexicano visa responder 3 perguntas sobre poesia:
O poema é impossível de ser reduzido, diminuído, a alguma outra forma de expressão? O que dizem os poemas? Como se os poemas se comunicam?
Inicia-se então uma viagem ao verdadeiro significado da existência da poesia em todos os povos do mundo, pois segundo o autor, não existe civilização sem poesia. Octavio Paz fala da natureza das coisas, uma vez que tudo rege-se por contrários como quente-frio, mulher-homem, bem-mal, e que estes movimentos rítmicos (o ritmo é a alma da poesia, diferenciando-a da prosa) são forças que garantem o dizer através de uma musicalidade própria que é alcançada apenas através do trabalho com a palavra.
Sentenças como “A poesia é fome de realidade”, “A imagem é a ponte que alarga o desejo entre o homem e a realidade”, “A experiência poética é a revelação de nossa condição original” e “O tempo do poeta: viver o dia; e vivê-lo, simultaneamente, de duas maneiras contraditórias: como se fosse inacabável e como se fosse acabar agora mesmo” apenas reforçam a beleza originada das palavras e talvez uma das funções do poeta no mundo, que é a de intensificar a experiência humana.
Íon, diálogo de Platão
Neste texto, além de se ler sobre poesia, conseguimos perceber a estrutura do diálogo platônico e o método socrático: a maiêutica, atividade em que o filósofo faz com que o discípulo reformule perguntas acerca do tema tratado, de modo a descobrir as respostas dentro de si. Sócrates dizia que seu trabalho não era muito diferente ao trabalho de uma parteira, uma vez que ambos trazem o encoberto ao mundo da luz.
O personagem Íon é um rapsodo (poeta que declamava, junto à música, poemas épicos de um povo) que tem a seguinte questão suscitada por Sócrates: a poesia é inspiração pura ou é arte elaborada? Inicia-se então o show de filosofia socrático, que primeiramente o indaga sobre seu conhecimento, uma vez que Íon é também comentarista de Homero e Hesíodo, levando-o a repensar questões de sua techné. É certamente um dos primeiros escritos de filosofia ocidental acerca da poesia e, como tantos outros, mantém-se atual.
O ABC da Literatura, de Ezra Pound
Grande crítico literário, Ezra Pound mostra que o importante é sempre analisar o poema, não o poeta, para que se tenha uma visão ampla do que seja a poesia. O que Pound cria é um verdadeiro manual para poetas e amantes da poesia. Em prefácio a edição brasileira, Augusto de Campos ressalta que:
“Pretende o poeta que esse manual seja lido com prazer e proveito pelos que não estão mais na escola; pelos que nunca frequentaram uma escola; e pelos que, em seus dias de colégio, sofreram as coisas que a maior parte da geração de Pound_ e da nossa, podemos acrescentar tranquilamente_ sofreu.”
Obra essencial para se conhecer os meandros que perpassam a criação poética que se cria num delicioso embate entre forma e conteúdo.
O ser e tempo da poesia, de Alfredo Bosi
Alfredo Bosi, importante nome brasileiro para as letras, disserta, em vários textos, questões sobre a situação da poesia no mundo, enfatizando que a poesia é capaz de sobreviver ao longo dos tempos e apresentar uma forma de expressão que se contrapõe ao neoliberalismo, sendo um ícone de resistência na podridão capitalista.
O capítulo mais emblemático do livro é poesia-resistência, capítulo em que o teórico disserta sobre a força contida nos poemas e como estes podem representar a luta social. Bosi fala sobre G. Leopardi, poeta italiano que escreveu A giesta, poema que reflete de modo primoroso a questão da resistência ao falar sobre esta flor do deserto.
Eis seus versos inicias:
Aqui sobre a árida encosta/ Do formidável monte/ Exterminador Vesúvio,/ Onde nada mais cresce, árvore ou flor,/ Tuas moitas solitárias ao redor espalhas,/ Perfumada giesta,/ Feliz com o deserto. Também te vi/ Com tuas hastes enfeitar os ermos caminhos/ Que rodeiam a cidade,/ A qual foi senhora dos mortais um dia,/ E do perdido império/ Parecer pelo grave e taciturno aspecto/ Servir de prova e advertência ao que passa.
Seis propostas para o próximo milênio, de Ítalo Calvino
Livro de tirar o fôlego àqueles que são apaixonados pela vida e pela vontade epistemológica. Ítalo Calvino foi convidado a realizar conferências para a Charles Eliot Lecturer, na Universidade de Harvard, preparando-as por mais de um ano, tema que lhe deixou muitíssimo obcecado em 1985. Destino, deus inexorável, fez com que a morte o visitasse justamente neste ano, impossibilitando-o de proferir as conferências que já estavam escritas, logo transformadas em livro.
As seis propostas de Calvino, que sobreviverão somente por conta da existência da literatura, são: leveza, rapidez, exatidão, visibilidade, multiplicidade e consistência, sendo esta última não escrita. Entramos então num mergulho às inúmeras referências literárias e filosóficas que nos ajudam a enfrentar os obstáculos do próximo milênio a fim de se fazer literatura de verdade. Calvino as pensa em virtude de seu ofício de escritor, propondo que assim sigamos seus vislumbres, tendo a leveza de Perseu para decapitar a Medusa, ou perceber que de algo pesado como a górgona surge um ser alado e substancial como Pégaso.
A rapidez é perpassada através da figura de Carlos Magno e definida por Calvino
“A rapidez de estilo e de pensamento quer dizer antes de mais nada (sic) agilidade, mobilidade, desenvoltura; qualidades estas que se combinam com uma escrita propensa às divagações, a saltar de um assunto para outro, a perder o fio do relato para reencontrá-lo, ao fim de inumeráveis circunlóquios”
A exatidão aparece na escolha lexical e imagética das criações, em resumo: um projeto literário que deve ser visível, aprofundado e bem arquitetado, explorando as melhores possibilidades de sua forma.
Para a visibilidade, Calvino pensa em descrições imagéticas que causam visualidade e imagens que inspiram descrições verbais. Para tanto, ninguém melhor que Dante a fim de mostrar o que é a imaginação, o sonho e demais devaneios que encontramos no Purgatório.
A multiplicidade é ilustrada através da forma do romance, pois ela representa
“o romance contemporâneo como enciclopédia, como método de conhecimento, e principalmente como rede de conexões entre os fatos, entre as pessoas, entre as coisas do mundo”. A multiplicidade explora as inúmeras facetas do “eu” e como este se configura na imaginação e seus processos narrativos.
Temos o legado de se pensar como a consistência existe e permanece na literatura. Evoquemos as Musas nesta missão!