Os 8 Filmes que Redimiram os Super-Heróis no Cinema Contemporâneo
Hoje, filmes de super-heróis baseados em quadrinhos geram produções cinematográficas de alto orçamento com bilheterias bilionárias. Entretanto, nem sempre foi assim. Adaptações de HQs, em quatro décadas, tiveram altos e baixos. Sem dúvida, o primeiro blockbuster de super-herói foi "Superman" (1978). O estrondoso sucesso deu início à era moderna dos heróis no cinema. Porém, ao longo dos anos “80”, o aspecto cada vez mais caricato dos filmes do Homem de Aço o lançou num limbo de 19 anos.
Somente em 1989, com “Batman” de Tim Burton, filmes inspirados em super-heróis voltariam a ter relevância. O clima sombrio resgatou o Homem Morcego do cartunesco seriado dos anos “60”. Assim teve início uma franquia milionária, que rendeu três continuações. Isso até 1997, quando foi lançada a derradeira pá de cal nos filmes de super-heróis: “Batman e Robin”. Apesar de alcançar o topo da bilheteria no fim de semana de estreia, a película foi perdendo espaço gradativamente com repercussão negativa de público e de crítica. A estética carnavalesca e os “bat-mamilos” decididamente extrapolaram as fronteiras do mau gosto.
A Marvel também não colaborou, “Capitão América” (1990) e “Nick Fury: Agente da Shield” (1998) foram direto para a prateleira das locadoras. “O Quarteto Fantástico” (1994) teve uma produção tão sofrível que foi vetado para distribuição. E quando tudo parecia perdido para os heróis de colante, uma sequência arrebatadora de filmes lançaria aqueles párias da Nona Arte aos píncaros da glória. Vamos conhecer os 8 filmes que pavimentaram o caminho para as super-produções baseadas em quadrinhos dos dias atuais. O início de tudo veio de onde menos se esperava...
1. Blade (1998)
Nos anos “70”, a Marvel Comics possuía uma linha de revistas do gênero terror. A HQ “Tomb of Dracula” mostrava as aventuras do vampiro da obra-prima de Bram Stoker. Blade era um coadjuvante nas histórias do temido Conde da Transilvânia. Criado por Marv Wolfman e Gene Colan em 1973, sua primeira aparição nos quadrinhos se deu no número 10 da revista do Drácula.
Quem poderia imaginar que, da ressaca dos filmes do Batman, surgiria o filme que iniciaria a redenção dos super-heróis no cinema? A película despretensiosa e baseada num obscuro herói de quadrinhos da década retrasada resultou num inesperado sucesso. Wesley Snipes nasceu para interpretar o anti-herói. Carismático e transbordando habilidade nas cenas de luta, o ator conferiu dignidade a um personagem que poderia virar uma caricatura na telona. O filme rendeu ainda duas continuações (Blade II - 2002; Blade: Trinity - 2004) e uma série de TV em 2006 (que não sobreviveu à primeira temporada). Apesar da recepção morna do terceiro filme, Blade forma uma trilogia consistente e muitos fãs ainda torcem pela volta do Caçador de Vampiros ao cinema.
2. Matrix (1999)
"Matrix" pode não parecer um filme de super-heróis. Entretanto, a mitologia proveniente das HQs estava presente. Para convencer os executivos da Warner a bancarem o projeto, os diretores Andy e Larry Wachowski contrataram dois renomados artistas, Steve Skroce e Geof Darrow, para elaborar os storyboards do filme. Cada cena foi concebida e ilustrada pelo nanquim dos fabulosos desenhistas.
Agora, o super-herói moderno trocava o colante colorido pelo couro, as capas viraram sobretudos e as máscaras, óculos escuros. Matrix misturou num caldeirão só: Filosofia, Literatura, Budismo, Ficção Científica, Kung Fu e Faroeste. Tudo num contexto pós-apocalíptico com humanos escravizados pelas máquinas. Sem falar no “Bullet Time”, efeito especial que revolucionaria as cenas de ação para sempre. O filme abriu as portas para a nova linguagem de ação do século XXI. Na cena final, o protagonista Neo, herói digital da nova tendência cyberpunk, sai de uma cabine telefônica e alça vôo aos céus. Nem Clark Kent faria melhor...
3. X-Men o Filme (2000)
Com o fenômeno Blade, veio o sinal verde para novas produções baseadas em quadrinhos. Se um personagem secundário e desconhecido podia lucrar nas bilheterias, por que não partir para as elites? No mercado norte-americano de quadrinhos, os X-Men dividiam o top de vendas da Marvel com o Homem-Aranha. O adorado desenho animado dos anos “90” também ajudou a tornar os mutantes a escolha perfeita para estrelar uma adaptação cinematográfica. O diretor Bryan Singer, fã confesso de super-heróis, moldou um filme fiel à fonte, encontrando o tom certo entre ação, comédia e conflitos sociais. O embate ideológico entre o Professor X e Magneto ganhou contornos claramente inspirados na rivalidade entre Martin Luther King e Malcolm X (tônica já adotada nas HQs). Seguindo a estética inaugurada por "Matrix", os uniformes coloridos foram substituídos por trajes de couro preto.
Assim, os X-Men viraram uma franquia bilionária, gerando cinco continuações, três filmes derivados (com Wolverine e Deadpool) e mais duas séries de TV (em desenvolvimento). O hype nos cinemas se fez sentir nos quadrinhos. Em 2001, o escritor escocês Grant Morrison assumiu a revista “New X-Men”, que revitalizou os mutantes para as novas gerações. Seguindo a moda dos filmes, os trajes colantes foram trocados por uniformes funcionais de couro. O visual “gangue de motoqueiros” durou quase meia década, até que as roupas coloridas foram resgatadas por Joss Whedon em 2004 (que adaptaria Vingadores para o cinema oito anos depois).
4. Homem-Aranha (2002)
A reação em cadeia iniciada com Blade e X-Men abriu as portas para o carro-chefe da Marvel. Desde a Era de Prata dos quadrinhos na década de “60”, Homem-Aranha se tornou de longe o herói de destaque da editora. O apelo popular do jovem nerd que se torna o intrépido aracnídeo ganhou âmbito mundial. Entretanto, o maior herói da Marvel nunca havia recebido uma representação live action digna. Tirando dois telefilmes de gosto duvidoso nos anos “70” e uma série de TV fracassada, a melhor coisa produzida do Aranha fora das HQs foram desenhos animados. Após uma peleja judicial que durou uma década, o “Amigão da Vizinhança” finalmente encontraria o caminho do estrelato. E foi o que aconteceu em 2002 nas mãos do competente diretor Sam Raimi. Mantendo-se fiel às HQs, “Homem-Aranha” arrebatou as bilheterias dos EUA (onde se tornou a maior bilheteria do ano) e do mundo. Com a vitória do “Teioso” ficou claro que agora filmes de super-heróis eram coisa de gente grande.
5. Estrada para Perdição (2002)
“Estrada para Perdição” definitivamente não era sobre super-heróis. No entanto, muita gente não sabe que a película foi adaptada da HQ de Max Allan Collins e Richard Piers Rayner. A história envolvia mafiosos na Chicago dos anos “30”, um pai e um filho foragidos em busca de vingança e era inspirado em pérolas como o mangá “Lobo Solitário” e “O Poderoso Chefão”. Além disso, a adaptação gerou um filme produzido por Steven Spielberg, dirigido por Sam Mendes e estrelado por Tom Hanks e Paul Newman, o que fez do filme um estado da arte em linguagem cinematográfica. A produção mostrou que películas baseadas em HQs podiam alcançar alto nível de reconhecimento. O filme foi indicado a seis Oscar’s, vencendo o de Melhor Fotografia, ganhou dois BAFTA’S e foi eleito pela revista “Empire” como a sexta melhor adaptação de quadrinhos de todos os tempos.
6. Batman Begins (2005)
Em 2005, coube ao diretor britânico Christopher Nolan promover o reboot do Batman nos cinemas. Foi sem dúvida uma tarefa árdua. Era preciso limar do imaginário popular toda psicodelia e alegorias carnavalescas que povoaram as adaptações pregressas do Homem Morcego. Partindo de ótimas referências nos quadrinhos como “Batman: Ano Um” de Frank Miller, Nolan reformulou a origem do Morcego mostrando toda peregrinação de Bruce Wayne pela Ásia antes de abraçar o manto do Batman. Numa abordagem realista, enfatizando toda operacionalidade dos famosos gadgets, fomos reapresentados ao universo de Gotham City, sempre assolada pelo crime. O Comissário Gordon, ainda um tenente das ruas, se tornou figura proativa e parceiro indispensável do mascarado. Tivemos um vislumbre detalhado da infância de Bruce, sentindo com ele a dor de quem perdeu cedo um pai carinhoso. Mas a despeito do imenso sucesso de “Batman Begins”, seu verdadeiro valor se mostraria a seguir...
7. Batman o Cavaleiro das Trevas (2008)
A bem-vinda ressurreição de Batman nos cinemas levou a uma esperada continuação. A surpresa veio com o arrebatamento provocado pelo filme. Uma trama complexa, sequências de ação de alta octanagem e uma interpretação visceral de Heath Ledger deixaram plateias bestificadas no mundo todo. Isso impactou positivamente nas bilheterias e a película alcançou a impressionante marca de um bilhão de dólares. As cifras atiçaram de vez a cobiça dos estúdios. Estava aberta a temporada de caça a personagens de quadrinhos com potencial para novas franquias.
8. Homem de Ferro (2008)
Depois de anos amargando produções fracassadas, a Marvel decidiu que era hora de partir para o tudo ou nada. Não era possível colher os louros de seus maiores medalhões, pois o Homem-Aranha pertencia à Sony e os X-Men estavam com a Fox (direitos autorais vendidos nos anos “90” para superar a falência). Com isso, a opção era explorar os heróis do segundo escalão, menos conhecidos do grande público. Foi assim que surgiu o Marvel Studios com a estreia de “Homem de Ferro” (2008). Robert Downey Jr. renascido das cinzas era Tony Stark e Jon Favreau (mais conhecido pelas comédias) assumiu a direção. Era uma aposta alta, mas que deu muito certo. Plateias do mundo todo foram fisgadas pela cena pós-créditos, onde Nick Fury anunciava a Iniciativa Vingadores. Tinha início o Universo Cinemático da Marvel. Uma franquia bilionária de produções multimídia interligadas.
Pois bem, esta é uma história que ainda está sendo contada, com outros estúdios entrando na corrida para fundar novas mega-franquias. Apesar de algumas vozes pessimistas anunciarem o esgotamento dos filmes de super-heróis, parece que estamos longe de presenciar o ocaso dessas produções. Vida longa aos heróis no cinema!