Diversidade na cultura Pop: somos bem representados? – PARTE I
Essas são as três perguntas que uma personagem da tirinha Dykes to Watch Out For, criada por Alison Bechdel, nos anos 80, se faz antes de ver algum filme. É o famoso Teste de Bechdel. Mais de três décadas se passaram, mas a maior parte das produções cinematográficas, animes, mangás, desenhos animados, enfim, toda uma cultura visual e literária ainda não consegue responder essas três questões de forma positiva. Algumas coisas mudaram, evoluíram, mas outras, nem tanto.
Cinema
Para iniciar a reflexão: mulheres dirigiram apenas 7% dos 250 maiores filmes de Hollywood no ano passado (2014). Enquanto 85% de todos os filmes norte-americanos lançados foram dirigidos por homens. As informações são de uma pesquisa divulgada pelo jornal britânico The Guardian.
Como o universo feminino pode ser bem representado, e personagens possam ser construídas de forma com que as mulheres se identifiquem (ou queiram ser iguais a elas), se quase sempre são os homens que fazem esse trabalho? Do que, afinal, eles entendem sobre nós? – nada. Esse é o ponto. As mulheres são representadas, e são representadas de várias formas: de acordo com a ideia a qual os homens que trabalham naquela determinada produção acreditam ser uma verdade; o público feminino daquela determinada produção é negligenciado, não parecendo necessário para eles que as mulheres sejam representadas; a produção é feita exclusivamente para homens, e as mulheres são colocadas ali apenas para agradá-los.
O mesmo acontece com outros universos: dos homossexuais, dos trans, dos religiosos não tradicionais (que não são católicos), etc. Os homossexuais e trans sempre são colocados em questões como: estou me descobrindo/ meus pais não me aceitam/ eu não me aceito/ o mundo não me aceita. Personagens que seguem religiões não cristãs são colocadas para “os caras maus”, ou é mostrada como uma religião estranha, não aceita.
O pote de ouro
A intenção do artigo não é fazer propaganda. Mas, sim, fazer uma análise desse universo. Como visto acima, a diversidade é sempre tratada nas produções cinematográficas com seus estereótipos, e essa é a ponta solta que a Netflix tem reparando, principalmente em suas próprias produções. Essa nova abordagem, a de colocar a diversidade em pé de igualdade (de ser normal) com a “vida padrão” só foi possível por conta de seu sistema simplesmente não depender de audiência, de número de tickets vendidos. Nisso, encontraram o pote de ouro: esses seriados estão fazendo sucesso, muito sucesso.
O seriado Sense8 é o melhor exemplo disso. Nele oito pessoas, que não se conhecem e moram bem distantes uma das outras, são conectadas mentalmente. Mas abordar as sensações, sentimentos e habilidades sensoriais vão além dessa conexão: "somos todos seres humanos, e todos nós vivemos, amamos, e sentimos”, disse o ator Naveen Andrews. E como amam e vivem esses personagens!
Entre os personagens há um casal de homens homossexuais e um casal formado por uma transexual e uma mulher. Há cenas quentes, mas os personagens não são, em nenhum momento, tratados com os estereótipos. São personagens importantes que possuem papéis importantes na história e que suas vidas particulares, suas características, seus gostos e escolhas não entram no enredo: eles estão ali, vivendo, e ponto.
Em Jéssica Jones, a personagem principal foge de todos os cubículos que as mulheres já foram colocadas na história da sétima arte: ela não precisa sorrir pra ser bonita, não precisa se vestir de forma sensual para convencer pessoas e fazer seu trabalho de investigadora e não precisa mostrar que é heterossexual pela forma de se vestir. E um ótimo ponto que a Netflix corrigiu: a moça foi estuprada, e quando encontra o “cara”, ela o pressiona:
- você me estuprou!! – mas você gostou – eu não gostei e eu não consenti. OBS: no HQ não existe esse diálogo, eles simplesmente deixam passar.
O próximo artigo discorrerá sobre o universo dos mangás, HQs e animes.