Maria Bethânia: três motivos para ser breganeja
Ela baila no palco. Faz alegres rodopios na música, salta e brinca nos meus sonhos. Desvenda qualquer mistério, sorri e chora — faz o público sentir múltiplas emoções, euforiza os que a assistem. É uma poesia.
Sua fala não deixa por menos. Sua voz é forte, arrepia os ouvidos e faz descer e subir calafrios na alma. Cantada ou recitada, sua voz comove, exalta ou alivia a dor. 'Levanta' e 'sacode a poeira'. Faz dar a 'volta por cima'. Tem várias performances, vários tons, muitos ritmos. Um deles, o sertanejo.
(Veja aqui uma homenagem à Maria Bethânia)
Muitas notas no Sertanejo
Sua parceria com a música sertaneja é mais do que um casamento de sucesso, de longa data. A música que embalou as cenas de 'Pantanal', novela da década de 1990 ( da extinta TV Manchete) foi entoada na voz de Bethânia. 'Tocando em frente' se consagraria em todo o Brasil como uma louvação, e ‘Pantanal’ como um grande marco para a teledramaturgia brasileira. Foi duplo sucesso. Mas parece que é assim, falou em sucesso, Bethânia está lá no meio.
Foi um marco também para carreira de Bethânia. Daquele momento em diante, os dois pés da cantora estariam fincados no mundo sertanejo. Compositores, tipicamente dessa veia, como é o caso de Almir Sater e Renato Teixeira, tiveram o alto e bom senso de emprestar a canção para a sua maior intérprete, Maria. Foi um presente, carro chefe do seu álbum daquele ano, momento em que ela comemorava seus 25 anos de carreira. Breganeja assumida
Outra leva do casamento que repercutiu muito foi o a releitura de um grande sucesso da dupla Zezé di Camargo e Luciano. O grande primeiro sucesso dos filhos de Francisco, 'É o amor', eclodiu nas rádios de todo o Brasil nos anos 90. Viria a brilhar mais uma vez na voz da musa bahiana em 1999, no álbum ''A Força Que Nunca Seca". Mais notoriedade teve quando foi incorporada à trilha sonora da novela global, Suave Veneno, folhetim que foi ao ar na faixa das 20h em 1999.
Seis anos mais tarde, em 2005, brilharia novamente, só que agora nas telonas. Ao compasso do piano e de arranjos primorosos — diga-se de passagem, brilhantes — fez nascer uma beleza e força diferente e harmoniosa na obra musical.
A nova versão fez parte da trilha de 'Dois Filhos de Francisco', filme que foi consagrado com bilheteria que ultrapassou mais de 6 milhões de espectadores. Em 2015 comemorou seus dez anos de lançamento.
Uma terceira canção
Um hit da década marcante, 1990, fez Bethânia entrar novamente na onda sertaneja. Esse foi um tremendo sucesso nas vozes da dupla Crystian e Ralf. ''Sensível demais'' tocou nas rádios e alavancou a carreira dos cantores. A música é do compositor — e também cantor — Jorge Vercilo, na época, ainda não tão conhecido do grande público.
a Dupla teria muito a agradecer a genialidade do compositor, que logo explodiria como cantor, consagrado como um dos maiores do país, na leva renovada da Música Popular Brasileira.
Se a música tem uma carga de emoção magnânima e dramaticidade incontestável — na voz inconfundível de Bethânia — teve seu poder turbo de potência alcançado. Um sentimentalismo convincente se apoderou dos arranjos, coroados pela genialidade da intérprete — podemos nos referir assim sobre a interpretação.
Deu o que falar
Uma versão bruta da música, em gravação em estúdio ( divulgada na internet) viralizou no You Tube. O mais engraçado do vídeo foram as broncas que a cantora dá em um dos músicos, citado no vídeo como João. A parte que mais empolgou os memeiros de plantão foi a frase: ''João não tá me dando'', que ela insistiu em repetir. Isso foi o bastante para se multiplicar memes na rede, conclamando João para realizar os desejos da musa : ''dá pra ela, João''.
Bobagens e besteiras bestas a parte, o que é de se reconhecer, com toda a honradez, é o seus grande poder de encantar e de fazer, das suas interpretações, um marco musical inesquecível.
Seu legado vai muito além da interpretação e do talento em ser única. O poder em emocionar ultrapassa as barreiras do simples ato de cantar. Transcende, supera as expectativas. Quem dera todos tivessem a magia do encantamento de plateias inteiras. Quem dera todas tivessem isso, a beleza e poder de ser Maria, Bethânia.
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