Enfim só!
Não, ela não tinha ideia de como seria agora.
Foram muitos anos de um relacionamento intenso – com todos os altos e baixos de uma relação vivida por quem nasceu abaixo da linha do Equador e sente pulsar nas veias as batidas do coração.
Mas da noite para o dia, o príncipe virou sapo. O amor e o desejo deram lugar à repugnância, ao asco, a uma repulsa capaz de contrair involuntariamente sua face, apenas ao ver na tela do celular a foto do dito cujo.
O que aconteceu? De quem é a culpa?
A essa altura a culpa já tinha tomado uma forma etérea. Sim, ele traiu. Viveu paralelamente uma relação intensa, emoldurada na mentira, na farsa e no egoísmo. Mas ela também se sentia culpada.
Não a culpa cristã formulada sobre a lei da causa e efeito.
Carregava consigo a culpa de ter permitido se iludir.
De ter criado fantasias mesmo quando a verdade se apresentava nua e crua a sua frente. Por ter se conformado em carregar o peso da carga social aceitando todas as humilhações, os xingamentos, as inúmeras vezes que ele tentou transformá-la num ser inferior, para conseguir suportar a insuportável insegurança que o consumia.
Por tudo isso tinha medo de seguir adiante. Como encarar a vida agora? Como acordar para mais um dia? Como olhar para o futuro sozinha?
Todos esses questionamentos lhe perturbavam.
A essa altura, já não sofria pelo que aconteceu, mas não se conformava com a ideia de ter perdido a ilusão.
Afinal, de tudo que suportou, esta era sua verdadeira perda - dolorosa, sofrida e insuportável.