As vestes papais

Antes de começarmos a falar sobre as roupas do Papa é importante frisarmos que ele possui o mais alto nível hierárquico da igreja católica, sendo o Bispo (administrador) de Roma, líder mundial dos católicos. Na teoria, qualquer membro da igreja católica que seja batizado pode se tornar Papa. Mas até hoje, apenas cardeais (considerados príncipes da igreja – que assistem o Papa em suas atividades) tornaram-se Papas.
Embora todas suas vestes e acessórios sejam bastante conhecidos, os Papas não possuem alfaiates próprios. Desde o século XVIII, porém, as peças são encomendadas na loja Gammarelli Sartoria Ecclesiastica (com excessão do Papa Pio XII). Quando visitam outros países, eles usam vestes feitas dentro do país em questão, como veremos mais pra frente, no caso do Brasil.
A veste mais comumente usada pelo papa é o hábito, ou batina. É basicamente uma bata longa e de cor branca. Outra versão dessa bata possui pregas atrás e dos lados e uma fileira de 33 botões (simbolizando a idade que Jesus tinha quando foi crucificado) na frente. Na cintura, há uma faixa com o brasão pontifício bordado. Há como acompanhamento uma capa curta branca com abertura na frente. Nos pés um sapato vermelho simbolizando o sangue daqueles que morreram por Cristo.

Em cerimônias oficiais, o Papa faz uso de uma estola (faixa usada em volta do pescoço) da cor vinho com bordados dourados (que simboliza o poder), além de um manto vermelho demonstrando sua autoridade espiritual e um cordão de lã representando o cordeiro – que simboliza a união do pontífice com a igreja. Na cabeça, usa a mitra, o famoso chapéu com duas pontas, bordado com fios de ouro.

As túnicas (casulas) de várias cores usadas durante determinadas cerimônias possuem diferentes significados. A vermelha é para Sexta-Feira Santa, Festa dos Mártires e missas dedicadas aos apóstolos Pedro e Paulo. A roxa é para a Quaresma e para o Tempo de Advento (que antecede o natal). A dourada é para Natal e Páscoa. A verde, para dias não festivos.

Vestes brasileiras
Como comentado anteriormente, quando o Papa visita algum país, ele usa vestes feitas dentro daquele país. Na visita do dia 22 de julho de 2013, o papa Francisco, atual líder da igreja, veio ao Brasil. Suas roupas usadas em terras tupiniquins foram feitas pelas empresas Cordis (do Espírito Santo) e Arte Sacro (de Santa Catarina). Ambas as empresas confeccionaram túnica, estola, casula e mitra para o pontífice. A primeira trouxe bordados de peixe e água (criados pelo artista sacro Cláudio Pastro). A segunda fez peças de material reciclado, com mosaicos dourados e pratas. Anteriormente, a Arte Sacro já havia feito as vestes para o Papa Bento 16, em sua visita ao Brasil feita em 2007.

Acessórios
O primeiro acessório usado pelo Papa, desde a missa que celebra o início de sua vida como pontífice, é o anel do pescador com a imagem de São Pedro gravada na frente. Para quem não sabe, os católicos creem que Pedro foi escolhido por Cristo para liderar a igreja e os Papas são seus sucessores. Toda vez que um papado acaba, esse anel é destruído na presença dos Cardeais.
Outro acessório famoso é o chapéu que parece o quipá judaico. Os cardeais e os demais bispos também fazem uso do solidéu (nome desse acessório, que significa “somente para Deus”), sendo vermelho para o primeiro grupo, roxo para o segundo e branco para o pontífice.
Nas missas, o Papa usa uma espécie de cajado (férula) e a mitra.
Os Bórgias
A série da Showtime conta a história do Papa Alexandre VI e de sua família. No início, podemos ver Rodrigo Bórgia ainda como um cardeal, antes de se tornar Papa. Seu filho Cesare também faz parte da Igreja, inicialmente como clérigo, tornando-se depois cardeal. O outro filho, Juan, faz parte do exército papal. A série ainda mostra a vida de sua filha Lucrécia, seu filho mais novo Jofre, a amante/esposa Vanozza dei Cattanei (mãe de seus filhos) e a amante oficial Giulia Farnese. Foi pelo figurino da série que acabei me interessando pelas vestes papais.

O figurino foi feito por Gabriella Pescucci (que também trabalhou como figurinista em O Nome da Rosa de 1986) e Barbara Aducci (responsável pelo figurino de Maria Antonieta de 2006). A série venceu o Emmy Awards na categoria Melhor Figurino em 2011.
A história se passa na época da Renascença, que teve início na Itália. Logo, as roupas dessa época seguiam a tendência renascentista, bem representada no seriado. Os tecidos como a seda e os brocados, além de novos tipos de tingimentos foram introduzidos em Roma pelos próprios Bórgias.

Existiu nessa época a tiara papal, usada pela última vez na história pelo Papa Paulo VI em 1963. Na verdade, essa tiara é uma coroa decorada com pedras preciosas, pérolas e uma cruz no topo. Seu formato lembra uma colmeia de abelhas. Os papas a recebiam na mesma cerimônia onde recebem o anel do pescador, mas como não tinha significado religioso, era usada apenas em procissões e atos solenes pelo pontífice. Alexandre também aparece sempre usando uma cruz, outro acessório comum aos Papas. Essa cruz é presa na batina e possui uma corrente. Para cada veste papal, há uma cruz diferente.