River
John River é um detetive londrino. Sua competência e brilhantismo profissional são capazes de ofuscar qualquer vestígio de incapacidade mental, até mesmo a de viver assombrado por alucinações, ou quem sabe, fantasmas. Sua introspecção, melancolia e constante luta contra a insanidade, revelam o carisma que um personagem excêntrico pode despertar à primeira vista. Principalmente quando sua maior obsessão é resolver um crime, cuja vítima, foi seu grande amor.
"River" ( direção de Abi Morgan) é uma pérola, no mar de séries da Netflix. Embora sua narrativa lenta, digna do cinema europeu, possa não agradar a todos os públicos, tem inúmeras qualidades e não merece ser ignorada. Do roteiro a trilha, a mini-série de apenas 6 episódios produzida pela BBC, cativa não apenas pelo seu protagonista, mas também pela dose certa de drama, suspense, e porque não romance.
O charme inglês e seu bom comportamento estão presentes. Os bons diálogos e o clima impecável, de uma Londres moderna, são grandes atraentes. Os atores irretocáveis. Stellan Skarsgard (River) e a atriz Nicola Walker (Steve) têm um química inquestionável. As cenas entre os dois são sempre memoráveis, seja com um teor cômico ou dramático (vide a primeira e um dos takes finais).
Não perdem, o merecido destaque, os personagens coadjuvantes e seus competentes intérpretes. A chefe Chrissie Read (Lesley Manville), o novo parceiro Ira King ( Adeel Akhtar) e a psiquiatra Rosa (Georgina Rich) contribuem de maneira relevante para o equilíbrio da trama. Aliás, a linha tênue entre sanidade e a loucura é um dos pontos fortes da obra.
Pessoalmente, "River" é só elogios. Mergulhar na mente de um detetive com traços peculiares de personalidade, e um jeito no mínimo incomun, de solucionar seus casos, é complexo e deliciosamente irônico. É quase inevitável não se apegar ao "stranger love" dos protagonistas, muito menos deixar de arriscar uns versos de I love to love, logo após a incrível cena final entre os dois. Me perdoem as produções americanas, mas os britânicos humilham.