O ANONIMATO DA SOLIDÃO
No meio das avenidas, nos transportes públicos e não públicos, pessoas se movimentam desorientadas e anônimas. Este é o quadro que se digere no cotidiano globalizado das metrópoles. A questão filosófica não ficou resolvida. Quem somos e para onde vamos com tanta pressa? Quem governa estes corpos que saltitam de pontos, os mais diversos, algumas vezes quase desaparecem em meio aos carros, ônibus, bicicletas e motos. Será o preço de nossa ganância, uma solidão latente que abate, estressa e pode por vezes matar. Há razões e respostas. Mas, ainda não vi mudanças para suavizar a questão do espaço urbano e o indivíduo. Tornamo-nos máquinas que ligam o automático e está tudo bem. Engolimos a pulso fumaça e poluição até cairmos doentes porque fomos ávidos atrás de um salário de fome.
Há quem não se queixe porque é mais casca grossa, do tipo aguento tudo-até-vencer. Vencer o que? O cargo promocional cobiçado pela turma da empresa? A conquista de uma casa própria, carro do ano, família comercial de margarina. E assim, a massa se tornou homogêneamente guiada pelos comandos do capitalismo. Todos querem tudo a todo o momento. Seja a aparência, a escolha do lazer, o sexo feito mal e às pressas, o desalinho do coração cansado.
Mesmo quando se sabe que aquela happy hour não consta do meu eu profundo, não se perde uma sexta feira sem ir beber com os colegas. E a farra sai caro. Seria a recompensa por uma semana de trabalho árduo. Anestesia-se a consciência para que nada possa doer. A lei do condicionamento behaviorista está levando as multidões das grandes cidades a um caos afetivo nunca vivido anteriormente na humanidade. E ainda há quem aplauda e se sinta compulsivo em ter mais compromissos, em embriagar-se de tolices aos fins de semana, porque afinal trabalham para ostentar. Trabalham para os outros. Os poderosos e invisíveis donos do poder.
E de repente, sem se dar conta, o preço desta automação se chama solidão. é quando o indivíduo não consegue mais parar. Não consegue mais ficar consigo mesmo, poruqe sua alma há muito se afstou do corpo e ele já não sabe quem é, para onde vai e principalmente onde está?
Hamlet fez a universal afirmação.: " Ser ou não ser. Eis a questão."
E a humanidade sem conhecimento de si, escolhe não ser. Enxugando gelo na sua busca insaciável por uma espécie de suicidio coletivo onde a roda gigante não pára. E a solidão grita por dentro o que já não sabe mais expressar.