EUNGYO: ANJO SEDUTOR
Engyo é um filme sobre a difícil relação entre um senhor de 70 anos, poeta e professor de literatura e uma colegial que logo de início entra na casa dele como um anjo sedutor e alegre. Ela provoca ciúmes no assistente ju Woo também jovem e ambicioso, mas com graves falhas de caráter. O diretor Ji Woo Chung brinca com as sensações que giram em torno do mundo do romance e da poesia, pois desde que Han Eun-gyo (Go-eun Kim) aparece se balançando na cadeira do velho homem tudo lembra o literário, a ficção.
Está construída uma nova linguagem com muitos significados que compõem uma narrativa poemática entre o velho e a colegial. Os diálogos de Lee Juk-Yo (Hae-il Park), o escritor aposentado, que através da poesia representam a conexão que este faz com a bela jovem, através do uso de um lápis para significar diferentes pontos de vista para a mesma coisa.
O aprendiz a escritor Seo Ji-woo (Mu-Yeol Kim) faz o lançamento de seu primeiro livro e best-seller e a curiosidade de Eungyo aumenta à medida que ela passa a trabalhar na casa como faxineira e cozinheira, roubando o lugar do rapaz que se torna um pária invejoso e agressivo. A garota está tentando descobrir um mundo novo através dos olhos do velho e o que ele tem a oferecer de suas décadas de aprendizado.
E é justamente sobre esses diferentes pontos de vista que o longa de Ji Woo Chung parece orbitar. Criando tensão através do imaginário do velho, que enxerga detalhes da vida que havia esquecido até conhecer a juventude “fresca” novamente – e que ela representa através do detalhe de cada elemento em cena, como sua visão debaixo das cobertas. A melhor sequência do longa se encontra bem no começo, quando Eungyo de fato vira inspiração para que o velho volte a compor um conto em prosa. É um envolvimento juvenil e onírico que nos faz crer que o ser humano sempre está em busca de algo mais, algo que o transcende, o que o diferencia de todos os outros animais. É um amor elevado, descontraído que beira a polaridade entre o espiritual e o físico.
A narrativa muda de ritmo com a entrada de Ju Woo na relação com todo seu ciúme e perguntas moralistas, frases agressivas, na tentativa de expulsar Eungyo da vida do velho poeta. Assim num crescendo de tensão, ele rouba o poema escrito para Eungyo e ganha um prêmio com o mesmo, passando a ser um impostor e traidor do velho mentor.
A vingança chega calculada e raivosa quando Lee depois do aniversário, bebidas e tensões, desce para ver o jovem casal transando na sala de sua casa. Ele fura os pneus do carro de Ju Woo e tira umas peças do seu para que o rapaz sofra um acidente. A vingança foi o troco para a facada no seu coração, uma traição a mais, uma vez que já havia roubado seu belo poema e tantos anos de amizade.
Assim Lee morre lentamente perto de Eungyo que num belíssimo monólogo lhe declara seu amor juvenil, sua verdadeira afetividade e o reconhecimento do poema ter sido da autoria de Lee, confessando sua imprudência e arrogância para que ele a fizesse sentir-se uma mulher bela e superasse a solidão de sua vida. Lee já está morto, mas jamais no coração de Eungyo.