A dificuldade que temos em pedir ajuda, deixarmos que alguém nos ajude ou simplesmente expor nossas fragilidades, nos impede de sentirmos a verdadeira essência do “estarmos vivos”. Seja através da música, da literatura, ou de qualquer outra manifestação artística, tocar e sermos tocados pelo Outro é a maior experiência que alguém pode vivenciar. Viver não é apenas respirar e seguir a rotina diária. Estar vivo é ficar nu e mostrar nossas fraquezas, pedir ajuda e aceitar a mão que apoia. Viver é transformar o (seu) mundo.
Fracassamos como amantes, como leitores ou como escritores: e o que, do fracasso, aprendemos? Que história podemos contar das bengalas que temos nas mãos, apoiando nossos medos? Entre verões, é no inverno da alma que os balões trafegam nas alturas.
“Quando os meus pés entraram no caminho de terra, que permanecia um tanto húmida da noite de temporal, a bengala era já uma memória de outra vida”.
Não somos linhas retas, listas perfeitas, literatura canônica nos 365 dias do ano.
Somos incoerentes e contraditórios na maior parte do tempo, em diferentes espaços.
Nossas leituras revelam muito de nós mesmos ou nos escondemos atrás de capas e palavras alheias? Temos medo de abrir nossas gavetas e mostrar que não somos obra-prima nas 24 horas do dia. Queimamos os rascunhos de nós mesmos, como em tempos de inquisição. Ao vento, nossas cinzas e contradições.