O que é ser normal?
Infância... Festa de 15 anos. Terminou o ensino médio? Uma faculdade. Está namorando? Não! Que isso! Sim! Quando vai casar? Casamento realizado. E os filhos? Estou grávida. Meu filho cresceu. Só um? Tem certeza? Não vai arrumar mais? Gostar de determinadas músicas, ir a certos shows, conversar sobre alguns assuntos. Se você se enquadra nesse parâmetro, ótimo, você é considerado como “normal”, ou como dizia professor Hermógenes, como “normótico”. Se você prefere outro estilo de música e não se interessa muito pelos assuntos debatidos, você é “anormal”.
Somos "normóticos"? O que será que nos impede de não sermos "normóticos"? Às vezes, é mais agradável ir à festa de fulano porque seu amigo (a) vai; beber a bebida x porque [email protected] te chamaram para sair e vão beber; comprar tal roupa porque está na moda e se eu não usar esse último lançamento podem falar de mim e não quero que isso aconteça.
Estou me referindo às nossas ações que são influenciadas por fatores externos. Claro que há coisas maravilhosas, agradáveis e atrativas, mas será que todas? E se não gostarmos de algo considerado normal, temos que comprar e usar porque está fazendo parte?
O Professor Hermógenes, o pioneiro da Hatha Yoga no Brasil, com quem eu tive meu primeiro contato com a yoga através de um de seus livros, criou o termo “normose”. É a doença de ser normal, é cada um fazer o que os outros fazem, ele dizia.
No filme “Deus me livre de ser normal”, ele falou que "o estilo de vida das pessoas comuns é normótico e realmente doentio. A sociedade está formada de pessoas doentes. É cada um fazer o que os outros fazem, não ter consciência nem de conduzir a sua vida de maneira consciente."
“Antes da tuberculose eu era um normótico e acredito que a minha condição de ser normal naquela época criou condições para que a tuberculose avançasse em mim. Deixei de ser normal, deixei de ser medíocre.”
Em uma entrevista com Martha Medeiros, ele disse que "o sujeito “normal” é magro, alegre, belo, sociável e bem-sucedido e que quem não se “normaliza” acaba adoecendo... É a angústia de não ser o que os outros esperam de nós. A pergunta a ser feita é: quem espera o quê de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate na porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha “presença” através de modelos de comportamento amplamente divulgados. A normose não é brincadeira."
Há realmente um modelo preestabelecido que devemos seguir? O que podemos fazer para deixarmos essa "doença" de lado?
Pierre Weil, um estudioso do assunto, após passar por uma crise existencial, conta uma experiência interessante: “Procurei colecionar todas as atribuições que se costuma fazer às pessoas julgadas anormais. Por exemplo: você é um idiota; você é um irresponsável; você é maligno, etc. Fiz uma coleção de umas trinta ou quarenta epítetos. Em seguida, traduzi-os ao seu contrário, pensando que, talvez dessa forma, poderia definir o que é normal. Para surpresa minha, saiu uma lista do que é um santo. Por esse procedimento empírico, um ser normal seria um santo.”
Que procuremos ser mais saudáveis e conscientes das nossas “normoses”, de nós mesmos e de nosso mundo. Sentindo mais, amando mais e descobrindo o que nos faz realmente felizes.