A SACERDOTISA DO TEMPO
Na sombra das vontades mal resolvidas, nos lamentos das paixões adormecidas e na teimosia dos quereres incessantes, refaço a memória do tempo para viver a minha estória.
Sendo o meu próprio Projeto, materializo a vontade latente do viver além. E nos caminhos que trilham em direção ao abismo da sobrevivência, sigo resistindo ao tempo. Dele não posso fugir, mas nele absorvo as minhas contradições e para ele imponho a minha trajetória.
Um luta onde no fim me tornarei poeira do tempo e chegarei ao momento onde todos os meus pedaços estarão dissolvidos nas memórias daqueles que escalaram junto comigo a montanha sagrada dos desafios do viver.
No meu defrontar com o tempo, exerço a minha subjetividade, vivendo de morrer a cada dia e vivendo os vazios de cada passo. Nesse combate vejo o mundo objetivo dos tempos plurais e imersa no mar de mim mesma faço a comunhão entre o meu tempo e o tempo objetivo.
Tudo se realiza em mim, vou do sagrado ao profano e nas ironias do tempo objetivo expurgo o meu próprio tempo no mundo. Posso estar aqui e não usar o relógio do tempo social. Ele não me domina porque não estou absorvida por ele. Sou a dona do meu tempo e mesmo quando o sarcasmo e a frustração reinam no horizonte social das possibilidades finitas, lanço no jogo da vida o recurso da teimosia e, assim, digo:
- Aqui, não, Sr. Tempo! Aqui, sou vontade, sou querer e sou o Projeto da Arte de Persistir. Tenho na teimosia uma virtude!
Sou habitante de mim mesma e em mim irei residir. Ao tempo submeto a minha arte da sobrevivência. Sou sacerdotisa do Tempo.