O conceito de amor de Wall-E que precisamos aprender
Cena do filme "Wall-E" http://www.imdb.com/title/tt0910970/
O filme se passa em 2805 d.C, época em que a Terra é abandonada e coberta de lixo devido ao consumismo em massa décadas atrás estimulado pela megacorporação Buy-n-Large. Wall-E é, aparentemente, o único ser a habitar o planeta. Sua solidão o ajudou a produzir uma casa com itens do passado, como um tocador de videocassete e filmes de romance. Uma das cenas mais bonitas e indicadoras da futura relação dele com Eva, uma robô avançada caída em seu planeta, é quando ele vê o casal do filme dando as mãos e associa esse simples ato ao sentimento de amor.
Se para algumas pessoas o indicativo de amor ou início disso é um abraço mais demorado ou beijo, para o Wall-E é dar as mãos. Isso é tão singelo que quase transcende. Num ano em que diversos términos de celebridades deixaram as pessoas um pouco menos esperançosas no amor, alimentar a ideia do quão ingênuo esse sentimento pode ser, é algo que refrigera a alma. Paixão e amor se confundirem e criarem concepções erradas um do outro não é uma novidade dos tempos modernos. Mas a recorrência do quão banal se tornaram as relações amorosas é algo que assusta. O sistema de rodízio de amores impossibilita momentos como o de Wall-E.
Ingenuidade é o que nos falta. Estamos cheios de malícia. Se nos interessamos por alguém, mudamos a compostura, o modo de falar e de agir para atrairmos aquela pessoa. Arquitetamos uma personalidade atrativa, inconscientemente mesmo, e sexualizamos demais o modo de nos relacionarmos com o ser desejado. Às vezes só se trata disso mesmo. Não que o flerte não seja proveitoso, mas pode ser que um carinho de mãos como no filme seja ainda mais. Não se trata muito bem das ações em si, mas do que elas revelam. Dos significados embutidos.
Se o conceito de amor de Wall-E terminasse por aí, já estaria lindo demais. Mas ele nos mostra que o amor independe do outro. Eu sinto porque sinto. Não pelo que você faz por mim, mas por ser quem é. A reciprocidade é um bônus. De início, Eva quase o mata. A robô acaba pifando e, em todo o tempo, Wall-E cuida dela. Até mesmo quando acabam transferidos para o planeta de onde ela veio, a sua preocupação não desaparece. Ainda na Terra, estava explícito que ele não receberia muitos benefícios de Eva. Porém, isso não o impediu de ajudá-la. Coisas simples mesmo, como não deixá-la pegar chuva.
Por as necessidades dos outros acima das nossas, persistência, ingenuidade e simplicidade são algumas das características presentes em Wall-E que eu desejaria para todos nós. Para qualquer tipo de relacionamento, seja amoroso, familiar ou outro. Isso facilita um pouco mais a vida e traz um “quê” de magia até então reservada para os filmes, para a realidade.