Clarice escrevia com alma, e este conto é um dos mais enigmáticos. Ela mesma achava difícil interpretá-lo por completo. O relato em si confunde-se com a própria vida, enigmática e misteriosa. Em busca de si mesma, a galinha vive o reino das coisas, aquilo que Jean Paul Sartre exemplifica como o reino de para si, sem senso de realidade, vive em sonho e em constante busca de si.
Quando se rompe a barreira do sonho e o homem vive a realidade em si, ele passa a ser objeto. Mas o objeto é mágico como o ovo de Clarice- ele é essência. E nós, seres humanos, somos a consciência.
Talvez o suicídio seja o clímax do agente desprotegido em busca da verdade absoluta, a procura incessantemente sem respostas. Individualista e incapaz de entender o grande barato de simplesmente viver, e entender que o viver nas palavras de Clarice “é extremamente tolerável- viver ocupa e distrai, viver faz rir", o suicida abre mão de viver sem respostas. A resposta está no Ovo. Melhor deixar quieto.