O olhar de Ana Paula Cordeiro para o interior paulista
A fotografia possui uma importância ímpar porque um único momento pode valer por toda uma eternidade. Petrificado num registro fotográfico, uma dada coisa ou momento podem ficar para a posteridade carregando significados e valores simbólicos muitíssimos valiosos. Além dessa capacidade de eternizar, a fotografia é mágica porque insere o olhar construindo uma ordem de discurso. Ver, junto com o falar, é talvez o maior dos impulsos estéticos pois com a fala e o olhar adentramos e também deixamos vivas vastas heranças culturais acumuladas presentes na língua e no formato das coisas. Assim como a língua é proveniente de um amplo acúmulo histórico, aquilo que olhamos é também a experiência estética ofertada por milhares de anos de ação humana que deixaram as coisas como estão: as cidades e os respectivos formatos, a arquitetura, o enquadramento urbano, a construção da paisagem.
Embora o falar e o ver estejam disponíveis para todos, num sentido amplo, não falamos nem olhamos da mesma forma. O olhar é sempre um certo olhar, uma construção, e adentrar o olhar alheio pode ser uma bela forma de experiência estética. Aquilo que não é visto por uns é notado por outros e coisas sem importância para alguns adquirem importância para outros.
Ana Paula Cordeiro, nascida em Marília, embora não seja fotógrafa profissional, desenvolveu um projeto pessoal de olhar sobre o interior paulista que possui uma riqueza estética e toda uma particularidade que merece ser conhecida. Distante das grandes fazendas, casas, e cidades que vão se fortalecendo, ela volta o seu olhar para elementos que ficaram abandonados nesse interior robusto que une o moderno e o tradicional, o sacro e o profano. Capelas e casas abandonadas, objetos, ela vasculha por coisas perdidas e para as quais talvez poucos olhem mas que dizem bastante daquilo que é e foi o interior paulista.