Há apenas duas formas de "estragar" uma criança. A primeira delas é criando-a mal demais, deixando-a passar toda forma de necessidade emocional e material, carência e insatisfação. A outra forma, por incrível que pareça, é não deixando que ela sofra nenhum grau dessas coisas e criando-a bem demais.
Quem nunca conheceu um "Denis, O Pimentinha" na vida real? São crianças que usualmente, devido ao seu comportamento, tiram os adultos do sério e os deixam à beira de uma crise de nervos. Especialmente no ambiente escolar, a agitação excessiva pode se tornar um obstáculo difícil de se superar. Se é verdade que essas coisas podem irritar os adultos a ponto de eles pensarem que seus filhos têm algum transtorno mental, também é verdade que talvez o problema não esteja, em si, nos comportamento exibidos.
Que os políticos são corruptos, pouco resta a duvidar. Mas já parou para pensar que talvez todos nós também sejamos? Não no sentido de furar filas ou ficar com o troco da padaria, mas em termos biológicos e psicológicos. Devemos nos fazer a pergunta: e se estivéssemos lá, agiríamos de forma diferente? O discurso narcisista diria que sim, mas a realidade, em toda sua dureza, parece apontar para a outra direção. A evolução também é um tapa de luvas na cara do moralismo.
Jake Gyllenhaal, já conhecido por filmes no mínimo interessantes como Donnie Darko e Brokeback Mountain, estreia essa produção cheia de chantagem, corrupção, fetiches, violência, assassinato e frenesi cotidiano. Mas por que esse filme não trata de pessoas mentalmente perturbadas, de amoralidade ou banalização da violência e sim de pessoas normais e cotidianas?
Já imaginou sofrer um acidente de avião bem no meio do Alasca, com nevascas, hipotermia, escassez de alimento, disputa pelo poder entre os sobreviventes e uma alcateia de lobos sedentos pelo seu sangue? Liam Neeson, o mais novo sessentão testosteronado de Hollywood, estreia essa mistura de thriller, ação e drama. A grande questão é que esse filme jamais foi sobre lobos, Alasca ou sobrevivência.