OS ARQUÉTIPOS E A CONSCIÊNCIA
Desde sempre o espírito é um mistério; investiga-lo é impossível, restando a nós apenas suposições inverificáveis, que por mais que tentemos validá-las, nunca conseguimos considera-las como sendo 100% verdadeiras. Considerado como sendo a parte mais profunda e essencial do intelecto, o espírito foi classificado como o propulsor da vida, da ação; dizem que ele está em contato com todas as coisas e possui desejos que não podem ser desvendados por nós. Como entidade mais próxima ao espírito, encontramos o arquétipo, que é considerado uma transferência do desejo descontrolado e sem formato do espírito para uma imagem externa, uma possibilidade que promete sanar os nossos desejos profundos e imperscrutáveis.
Nos sonhos deparamo-nos com símbolos que representam os arquétipos e os conteúdos inconscientes da nossa mente. As profundezas do intelecto são identificadas como sendo ambíguas, variando entre o bem e o mal, variando entre dois extremos. Em meio a esses extremos, de plenitude e de completa aniquilação, são feitas associações espontâneas e inconscientes; essas associações fogem ao nosso controle consciente, e raramente são identificadas. Todas as situações que vivenciamos são desenvolvidas pelo inconsciente, ele faz associações a memórias, assim definindo uma interpretação para a situação com a qual nos deparamos, que se enquadra em apenas duas possibilidades: redentoras ou destruidoras da vida. As profundezas do intelecto operam apenas através do tudo ou nada, sem meio termo.
Mesmo deparados com o extremismo da nossa mente, não nos sentimos impotentes perante as construções conceituais inconscientes. Ao longo da vida conseguimos verificar o quanto nossos conceitos são infundados; essa discrepância, entre aquilo que a mente define e a realidade, leva-nos à desconstrução e à diminuição da intensidade de muitos de nossos conceitos. Essa reestruturação consciente elimina os exageros conceituais, proporcionando uma base conceitual mais coerente e real.
No entanto, muitos de nossos arquétipos e interpretações exageradas permanecem longe de nossa percepção, influenciando-nos em todas as nossas ações, causando desconforto e desespero, sem que possamos fazer nada para alterar esses exageros, pois não conseguimos identifica-los, o que não nos permite reestruturar esses conceitos de maneira consciente e condizente com a realidade.
Para conseguirmos identificar os nossos motivos profundos é preciso que ampliemos a nossa percepção, tornando-a capaz de enxergar mais profundamente. Uma pessoa dotada de uma percepção abrangente é capaz de identificar os agentes externos que lhe incitam sensações, assim como é capaz de perceber a maneira como são estruturados os seus conceitos.
As características mais marcantes dos indivíduos dotados de uma consciência avantajada são o olhar vazio e a ausência de sentimentos. A consciência ampla é uma habilidade raríssima, e permite a desconstrução de qualquer arquétipo, de qualquer conceito. Infelizmente, a desconstrução de qualquer estrutura da mente pode conduzir a um estado de apatia extrema, uma condição de não agir, que é almejada pelo indivíduo. Em uma consciência de senso crítico afiado e percepção profunda, a construção de um objetivo torna-se uma tarefa dificílima.
O último estágio da consciência humana é denominado o controle absoluto, onde a pessoa é capaz de desconstruir e construir aquilo que ela quiser. Essa condição psíquica é ainda mais rara; nela, o indivíduo torna-se capaz de enganar a si próprio, estabelecendo conceitos e condições imaginárias, que o permitem alcançar o modelo existencial que foi proposto de forma racional.