"Direita ilustrada" e "direita imbecilizada"
Historicamente, a direita política sempre esteve associada aos interesses das elites e à manutenção do status quo.
Para tanto, seus ideólogos produziram diversos discursos que buscavam justificar e naturalizar as desigualdades sociais, o que poderia impedir que os oprimidos se rebelassem contra os opressores.
É fato que, para levar adiante essa dominação simbólica (que caminha paralelamente à dominação física através da violência), a direita precisou recorrer a algumas das mentes mais favorecidas de diferentes áreas como Direito, Psicologia, Ciências Sociais e Comunicação.
É a inteligência humana a serviço de interesses escusos.
Já nos últimos anos, em contraposição a essa "direita ilustrada", tem se destacado o que podemos chamar de "direita imbecilizada", representada, sobretudo, pelo governo Bolsonaro, também conhecido como "idiocracia".
Enquanto a "direita ilustrada" contava com oradores com altos poderes persuasivos (que, infelizmente, em muitas oportunidades convenciam os oprimidos a odiarem seus iguais e admirarem seus algozes) a "direita imbecilizada" tem o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e seus erros crassos de português.
"Imprecionante".
Se a "direita ilustrada" tinha a "Dama de Ferro" Margaret Thatcher, que atacava os diretos dos trabalhadores, mas produzia frases de efeito que hoje fazem a festa dos coxinhas nas redes sociais, a "direita imbecilizada" é representada por Damares Alves e seus delírios.
No aspecto intelectual, a "direita ilustrada" buscava justificar suas barbaridades recorrendo a pensadores como Nietzsche.
Por sua vez, a "direita imbecilizada" tem como guru filosófico o astrólogo Olavo de Carvalho. Para argumentar sobre o neoliberalismo, a "direita ilustrada" lê Mises e Adam Smith; e a "direita imbecilizada" compartilha vídeos de Kim Kataguiri e Rodrigo Constantino.
No tocante ao gosto musical, a "direita ilustrada" ouve Wagner.
Roberto Alvim até tentou imitar Goebbels nesse aspecto.
Mas a "direita imbecilizada" gosta mesmo é de sertanejo universitário.
Para se manter informada e formular seus posicionamentos, a "direita ilustrada" seguia Paula Francis; e a "direita imbecilizada" compartilha fake news em grupos de whatsApp.
Se a ciência é uma das maneiras que a "direita ilustrada" encontrou para racionalizar suas maldades, a "direita imbecilizada" é terraplanista.
A "direita ilustrada" é maçônica, a "direita imbecilizada" está no MBL.
No humor, o principal nome da "direita ilustrada" era Chico Anysio"; da "direita imbecilizada" é Danilo Gentili.
Enquanto o racismo da "direita ilustrada" é amparado na obra de Demétrio Magnoli; o racismo da "direita imbecilizada" conta com Fernando Holiday.
O ministro da Economia ideal para a "direita ilustrada" é Delfim Netto; da "direita imbecilizada" é Paulo "tchutchuca" Guedes.
Se o presidente da "direita ilustrada" tem doutorado pela USP e fala outros idiomas (para atacar o povo de uma maneira mais chique), o presidente da "direita imbecilizada" tem curso de paraquedista e escreve besteiras no Twitter.
No entanto, se engana redondamente quem acredita que "direita ilustrada" e "direita imbecilizada" têm objetivos opostos.
A "direita ilustrada" pode até criticar a falta de inteligência da "direita imbecilizada".
Porém, ambas estão unidas para manter o sistema capitalista ativo, arrancando o couro do trabalhador.