A (agressiva) política externa de Biden
Um dos equívocos mais comuns em análises geopolíticas consiste em reduzir o complexo cenário das relações internacionais às personalidades de determinados chefes de Estado, em vez de focalizar no que, de fato, importa: as ações concretas das diferentes nações. Este tipo de viés interpretativo, chamado de "personalização" nos estudos em Comunicação, mais obscurece do que propriamente, explica a realidade.
Vejamos, por exemplo, os casos do ex-presidente dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, e de seu sucessor, o democrata Joe Biden. À primeira vista, Biden, enquanto mandatário da Casa Branca, é muito mais confiável do que o excêntrico Trump, conhecido por seus posicionamentos ligados à extrema direita e pela divulgação excessiva de fake news.
No entanto, como diz o jargão popular, as aparências enganam (e muito!). Diferentemente de seu antecessor (relativamente isolacionista nas relações internacionais); Biden, em apenas seis meses de mandato, já promoveu bombardeios na Síria e no Iraque e, ao que tudo indica, está por trás das recentes convulsões sociais em Cuba e no Haiti. Recentemente, ainda tivemos as obscuras visitas de integrantes da CIA a Brasil e Colômbia.
Isso não significa, evidentemente, afirmar que Trump tenha sido um excelente presidente ou algo similar. Longe disso. Não há espaços para análises maniqueístas. Mas, pelo menos no tocante à geopolítica, conforme os fatos nos mostram, é fácil concluir que Biden, em um semestre, já colocou em prática uma política externa muito mais agressiva do que a feita pelo seu antecessor em quatro anos de mandato. A suposta defesa da agenda ambiental global por parte do presidente democrata, com o retorno estadunidense a acordos internacionais, é mera cortina de fumaça.
Em relação à política externa, Trump se limitava ao âmbito retórico: mais falava do que propriamente fazia. Em contrapartida, Biden é mais efetivo. Ela menos fala do que faz. Lembrando o dito popular, cão que ladra não morde. Já aquele cão que não ladra, morde muito.
Se o mundo não era um lugar muito bom de se viver com Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, não há motivos plausíveis para acreditar que será melhor com Joe Biden à frente da Casa Branca.