O amor acontece… mesmo quando não devia!
Photo: Helô (Cláudia Abreu) e Pedro (Reynaldo Gianecchini), em " A Lei do Amor"
Quando chegaste de assalto à minha vida, não era suposto ficares; tampouco ser para sempre, pois era supostamente feliz na minha zona de conforto… mas com outro!
Na realidade, a nossa história não é de agora; é de há dias, meses, semanas, anos… ainda que distantes, tão próximos, e, por isso mesmo, lembro e relembro até os mais ínfimos detalhes; pequenos nadas que ficaram e que te diferenciam de todos os outros que por mim passaram; também eles levaram um pouco de mim. Ah! Mas tu levaste a maior parte: o meu coração, que passou a ser teu, muito antes da minha alma.
Éramos jovens, tão cheios de vida e de projectos; éramos ambiciosos, dinâmicos, empreendedores; éramos…
Quis o destino que embatêssemos um no outro, numa encruzilhada da vida, por acaso, em contexto profissional. Um evento Networking, em Lisboa, terá sido o veículo para o nosso face to face que foi algo de mágico, electrizante de todo.
– Madalena, este é o João; João, eis a Madalena – Bum! E foi assim que explodiu o rastilho accionado por uma alminha caridosa, conhecida de ambos, que também por ali andava, tal como nós, com o intuito de promover a sua empresa.
Meu Deus! Ficámos momentaneamente especados um no outro, como se de repente, o mundo à nossa volta tivesse parado. Um silêncio traduzido num olhar que valia por mais de mil palavras.
What’s this? Havia que apaziguar as borboletas no estômago de alguma forma; disfarçar aquele fascínio e sedução inexplicáveis, surgidos integralmente do NADA!
Pois sim! Mas como? A realidade é que nem TU, nem EU, por muito que tentássemos, conseguíamos disfarçar o que estávamos a sentir. O nosso fácies era demasiado denunciador; nele estava escarranchada a evidência: apaixonámo-nos e pronto!
Ai, mas que bronca colossal! Porquê? Ora porquê! Lindo serviço! Então, se eu estava noiva de outro, era, no mínimo, bizarro, não?
Carago! Onde é que já se viu dar-se assim um volte-face de 180 graus na vida, por causa de um pretenso príncipe encantado que chega de repente, e toma de assalto o coração de uma pessoa?
Pois é! Complicado, não? Bem que tentei controlar este meu sentir libertino, enganando-me a mim própria. Passei a dizer “não”, quando queria dizer “sim”. Mas os olhos… ah! Os safados dos olhos expressavam exactamente o contrário; escarrapachavam, o que com esforço inglório tentavam omitir.
Queria-te tanto meu querido… mas não podia; e por isso, passei a amar-te em silêncio.
Um dia disseste-me que terias que partir por tempo indeterminado; o equivalente a teres dado um nó bem apertado no meu coração. E tu, provavelmente, no teu.
A tristeza e a dor apoderaram-se de mim, e também de ti, bem sei; escusas de o negar.
O que esperavas? Que te impedisse de ires?
Se ao menos naquele derradeiro dia em que te acompanhei à estação dos comboios me tivesses surpreendido com um ultimato, do género: “por-favor-não-te-vás-de-mim!-Não-te-vás-de-nós!”
Mas foste. E eu também fui. E passaram-se vinte e cinco anos.
Vinte e cinco anos de uma vida que abdicámos, que recalcámos… que nos entregámos a outros, e nos acomodámos numa espécie de quentinho aconchegante; pensava eu.
Pensava, mas pensava mal; pois eis senão que, para minha grande surpresa, estás de regresso.
Com um aspecto mais envelhecido, mas a mesma ternura no sorriso e no olhar, irrompes novamente porta adentro na minha vida; trazes contigo um pequeno trólei de viagem e debaixo do braço, a nossa história que ousaste escrever, em livro, contendo entre páginas um bilhete dos tais, que me terás escrito apenas em sonhos. “Quero-TE para sempre, meu amor”! – dizia.
De sorriso estonteante e coração a eclodir pela boca afora, respondi-te:
– Não vai ser fácil. Fecha a porta e vem, meu amor! Finalmente, vem!
© Paula Pedro
Fonte: Pamarepe
Nota: Por expressa e legítima vontade da autora, este artigo não segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990.