A Psicanálise do Amor na Cinematografia de Woody Allen
O interessante da psicanálise é a sua perspicácia de perceber que temos muito de construção cultural em nosso jeito de lidar com os afetos. A ciência de Freud coloca em choque toda a gama de filosofias de conceitos deterministas sobre os valores humanos. O olhar psicanalítico parte pelo ouvido, escutando aquilo que é difícil de dizer: “os segredos”. Por isso, aquilo que sabemos sobre o outro é apenas a interpretação que temos dele, e não sua essência de fato.
É na intimidade amorosa, na medida da convivência, que estabelecemos aquele vínculo de expressar sobre si mesmo para a pessoa amada. Desejando que este nos compreenda.
Entretanto, no fervor da paixão nos iludimos ser entendidos pela pessoa que amamos. Outras vezes, nos damos conta de que estávamos enganados e percebemos que nem nós mesmos nos conhecemos direito e por isso delegamos à outrem o trabalho árduo de nos fazer se entender.
Sabe aquela sensação de se sentir fragmentado? Sem consistência em si? Pois bem, é a subjetividade gritando pela reconstituição da própria interioridade do ser. Mas, a auto-construção é tarefa árdua, exigi-nos um esforço paciente e dobrado para lidar com a difícil arquitetura de nossa própria intimidade. Aí, caros leitores, bate aquela sensação de abandono. De que ninguém está preocupado conosco. Fica uma angústia corroendo por atenção de outrem.
Diante disso, fica propício para muita gente, a entrega de ficar com o primeiro colo que realize um bom flerte encantador. O fato é que: a solidão nunca nos deixa sozinho. Sempre fará companhia para nós, mesmo quando temos alguém dividindo a cama ao nosso lado.
Assim, insistimos em apostar num amor que nos faça devolver a própria unidade íntima de si mesmo. Mas, nem sempre amamos a pessoa com quem estamos, para muitos é uma fuga de evitar a solidão.
Tudo bem que Freud explica, mas Woody Allen exemplifica em seus mais diversos filmes. A narrativa de sua cinematografia é de dizer sobre o banal da vida conjugal. Histórias conflituosas de relacionamentos que não deram certo, de encontros e desencontros que tocam no profundo de cada homem e mulher.
No séc. XIX, Flaubert soube apresentar o conflito da mulher romântica; já na contemporaneidade temos com Woody Allen a apresentação da realidade de que o humano deseja romantismo. Porém, não mais com aquela ideia de que existe a “tampa da panela”, ou seja, de uma “alma gêmea”. O que há nos enredos do cineasta é a interpretação de que somos capazes de amar de diversas maneiras, para com diversas pessoas e tornando nossas vidas uma gama de vivências mil de amor.
Hoje, não vivemos mais com o propósito maior de encontrar alguém que seja o sentido da vida. Até pensamos que sim. Entretanto, o que nos faz movimentar intensamente como seres de consciência sobre o próprio existir – advém, pelo fato de que o importante mesmo é fazer experiências de se sentir vivo. Por isso, o amor em sua chama louca e sem razão explicativa no primeiro momento, é que nos dá prazer de continuar vivendo.
Com certeza, você conhece histórias de pessoas que assumiram a decisão de largar mão daquele relacionamento tedioso e partir para um novo. É bem capaz, que você tenha passado por um episódio woodyleano. O fato é que, desejamos alçar voos que nos distancie do chão triste da rotina, por isso fazemos loucuras ao pegar carona nas asas da paixão.
Até porque, tudo pode dar certo quando se têm magia ao luar. Afinal, todos nós passamos por aquilo que é igual a tudo na vida - o de chutar o balde e começar do zero outra vez!
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