Pas son genre: O amor e seus diferentes lados
Alguns amores batem na nossa porta, e, insistem em querer ficar. Lutamos contra eles e o afastamos enquanto podemos. Pois, já sabemos que logo ele escorrerá de nossas mãos. Sabemos que ele irá partir como os demais e deixar um coração aberto e arregaçado, apenas para ser curado aos poucos. O processo de cura é doloroso e nos transforma. As lembranças que ficam. Os pedaços que temos que varrer para mais tarde tentar colar. Sabemos que nada é para sempre e mesmo assim queremos acreditar que tudo ficará bem. Pois, no fundo precisamos amar. A ideia desse sentimentos precisa estar lá. Mesmo quando, tudo parece perfeito, ainda resta aquele vazio estranho, pois nada parece estar acontecendo sem alguém ali. Essa é a visão que se tende a ter, e, que o nosso coração luta para explicar.
Não obstante, existe um caminho que eu não sei exatamente onde começa. Somente sei que vem quando não temos mais esperanças em um amor durável. A fase em que tudo se torna passageiro, mas estamos tão acostumados que deixamos tudo ir e vir com facilidade. Seguimos em frente. Partimos para a próxima estação.
Quando chegamos lá. Não há muita emoção ou o que demonstrar, pois já se sabe que em algum momento, apenas irá acabar. Não tem pelo o que brigar. Não tem pelo o que reclamar, pois já nem sei se sabe o que significa amar. Somente, sabemos que nesse jogo alguém pode se machucar. Mas, quando se está acostumado, se deixa passar.
Alguns filmes franceses tendem a demonstrar os amores líquidos. Aqueles que vem e vão, mas são especiais pelo o tempo que duram. São pequenos momentos e sorrisos que deixam o mundo mais colorido. Belo e simples. Mostram o quanto ele pode nos consumir ou não, se permitirmos.
No longa, Pas Son Genre, ambos os pontos de vista são passados. Sempre de maneira leve, sensitivo e artístico. Explorando o amor através das facetas do relacionamento. Clément (Loïc Corbery) é professor parisiense de filosofia que quando se trata do amor é quase que um anti herói. Não está muito preocupado com o que pensam. Cético e confiante. Seguindo o ritmo de sua profissão e vida. Não está preocupado com amores duráveis, isso só não importa para ele. Em Paris, na correria ele seguia o ritmo que a vida lhe oferecia se preocupando consigo mesmo e suas ideias.
Porém, ele é transferido para uma cidade pequena da França, onde conhece Jennifer (Émilie Dequenne). Esta que é cabeleireira e nunca foi a Paris. Tem um filho pequeno e uma vida pacata, onde de vez em quando canta com suas amigas em um clube. Ela busca um amor mais simples e durável. Longe de aventuras. Não obstante, quando começa a se envolver com Clément ela vê seu mundo ficar confuso. Seus sentimentos serem desafiados. Os próprios padrões socioculturais entre ambos é bem divergente. Ambos buscam por coisas diferentes na relação e enxergam a tal de maneira paralela.
O filme trabalha muito essas diferenças. O quanto isso afeta ela de maneira bem extensa e o quanto ele sempre se mantem afastado da maneira dele, mas não vejo isso como ruim, pois é a maneira dele de enxergar o mundo. Mesmo que, no contexto da relação ela comece a exigir mais dele. Isso causa certas reviravoltas na histórias e nos papéis sentimentais de cada um.
Aqueles sentimentos sonhadores de Jennifer começam a se deparar com o muro de realidade que começa a crescer. Ela se vê naquele estado em que, por mais que tentemos lutar contra, os defeitos parecem mais expostos que as expectativas passadas. Enquanto, Clément começa a tentar mais de sua maneira, mas a ideia que se passa, é que ele tenta mais pelo medo de perder do que pelo amor idealizado dela.
Jéssica muda de certa maneira suas próprias ações diante dele. Mas, isso que as vezes nem é percebido por ele, que mesmo quando tenta lutar mais, não consegue se envolver tanto. Os filmes franceses tendem a terminar de maneiras únicos. Fazendo o público questionar e se perguntar: E então? É isso.
Pas son Genre, não tem uma ideia divergente a essa, mas segue o caminho contrário ao que se imaginava desde o começo. Jennifer agarra suas forças para ir além. Escolhendo não se prender a alguém pelos sonhos. Mas, buscar os seus próprios indo além disso. Escolhendo seu próprio caminho entre milhares. Deixando o tempo colar seus pedaços e lutando a sua maneira para voltar a sorrir.
Para ele podia não fazer diferença, por causa de sua cultura e valores, porém para ela passa a ser a ideia do não se apegar a um amor falho por necessidade. Resolvendo enfrentar seus problemas com forças e determinação. A mulher que muda por si mesma e o homem que vive por ele mesmo. Ele apreendeu a ceder um pouco e ela a não ceder tanto. Ele corre atrás, mas em um momento em que ela vê que merece mais que o um amor passageiro.
O longa trata muito das diferenças sociais entre ambos e o quanto isso interfere em suas relações, mas escolhi frisar na forma de amor de cada um deles. Não defendendo um ou outro, mas entendendo o quanto o ponto de vista de cada um é importante em um mundo onde todos somos tão mutáveis.
O filme poderia ter dado um final utópico de um amor durável, onde se poderia escolher lutar contra essas diferenças. Não obstante, esse romance fora tratado maneira diferente. O moderno e frio amor contemporâneo que vem e vai. Não se luta pelo outro, mas por si mesmo.