A crônica do não responda
Não foram suas elipses e nem os eufemismos que não me disseram o que eu precisava ouvir, mas sim o acordo tácito entre mim e o meu engano de não dizer o que queria. A gente cala as coisas com a mesma responsabilidade que as fala. Essa talvez, seja a lição mais dura- não tanto quanto necessária- da comunicação humana. Certa vez, Amélia, a menina não-tão-menina nem adulta, recomendou a si mesma depois de encarar o luto de um fim de amor, que encontrasse a medida certa no próximo amor. Saber se deveria falar de mais ou de menos, o quê falar e o que não falar.
A alienação de um desejo é também um importante tema do luto, uma vez que não existe somente a ameaça de perder o amor do outro mas também o próprio.
Neste caminho de pensamentos cheio de percalços, Amélia só poderia se indagar ainda mais enquanto bebericava um café quente. Amava Leminski como nenhum outro poeta, observava a sua sensibilidade de movê-la a entender sobre as coisas mundanas. Em mais um gole que por obséquio o último daquele terceiro café, economizou no suspiro que ia dar por causa do desamor e não economizou no pedido de outro café. Satisfeita que já estava, pôs-se a pensar sobre aquilo que não se preenchia por mais lotado que estivesse- e dispensava o argumento chulo de justificar biologicamente a saciação de sua sede. Esse pedido incessante por outro, afinal, é falta de quê(m)? A quem ela estava recitando tanto o "Repara bem no que não digo" de Leminski? Amélia, talvez quem precisava ir já tenha ido. Pedir que a pessoa só ouça e não responda mais, não irá mudar o que você já ouviu dela e o quanto doeu.
Talvez, você precise do que tanto costumamos negar a nós mesmos: autocompreensão e um tempo.
Ninguém vive e nem morre de amor, por mais que o suponha.
Vai lá, Amélia. Se ponha no próprio rumo. Se escuta. Você tem muito a dizer pra si mesma.