Falácia do Batman
Todos gostam de conversar, ou, pelo menos, trocar umas palavras com outras pessoas. Nessas conversas nem sempre conseguimos manter a compostura, ou argumentar com a outra pessoa que pensa diferente de nós. E, em muitos casos, sair de perto não é aceitar a posição alheia, é apenas para não criar um mau-estar. Entretanto, e infelizmente, raras vezes aceitamos que não conseguimos defender racionalmente aquilo com que lidamos e pimba, damos aquela famosa apelada: dizemos que a outra pessoa é chata, ou que não suporta escutar ideias contrárias. Ou até mesmo que é para parar de impor suas ideias sobre as outras. E mais: ainda dizemos que, se não gostamos de algo, que procure outro bem absurdo. Eis o que é a Falácia do Batman. Não entendeu ainda qual o ponto? Então, vamos para os exemplos.
Vamos imaginar a situação: dois cozinheiros estão trabalhando, e um deles vê o outro fazendo algo equivocado. Aquele comenta a circunstância e o equivocado, em vez de aceitar e tentar entender o que não está saindo bem, ou até mesmo mostrar o porquê de fazer daquele jeito e explicar, inicia um ataque dizendo que só ouve reclamação, ele sempre diz que não faz nada certo, que não quer saber porque é injustiçado, até o ponto em que, nesse rompante de fúria, diz que é para o outro procurar outro cozinheiro para seu lugar, pois não vai aturar mais isso.
Estranho? Difícil de entender a situação? Diria que é muito tranquilo e fácil de compreender tal reação, aliás. É muito mais "normal" do que deveria ser. Uma atitude passional pura, que não leva a lugar algum, além de conflitos e desentendimentos. Vejamos outro exemplo para que fique ainda mais claro.
Um casal, pronto para sair. Decidiram que vão jantar fora. Um deles comenta sobre o perfume, que está incomodando. A outra pessoa, que passou o perfume, em vez de tentar argumentar que é seu preferido, que gosta muito, ou perguntar o motivo do incômodo, começa a gritar, dizendo que nada que faz está bom, sempre ouve críticas, tudo sempre está errado quando parte desta. E, em meio a isso, normalmente virão algumas ofensas, descabidas e descontroladas. Moral da história: muito provavelmente já era o jantar.
O que ambas histórias têm em comum? A Falácia do Batman. Como isso, me perguntarão. Simples: em vez de um ganho significativo, em vez de conhecer o motivo da crítica, da reclamação, inclusive, a única coisa que perdura no momento é o ataque passional, uma defesa incomensurável, que não levará a lugar algum. Não há ganho, não há a mínima possibilidade de diálogo quando se apela para este campo sentimental. Não se tem como argumentar, tentar entender algo desse modo.
E o que tudo isso tem a ver com as nossas vidas? Simples: convivemos com tal postura todos os dias, praticamente em todos os momentos. Quantas vezes não encaramos, em conversas informais, na fila do supermercado, na lanchonete, e fazemos um comentário qualquer e se escuta uma resposta assim? É uma atitude que beira a infantilidade, diria. Não se tem como amenizar, ou mesmo se fazer entender: quem rompe as barreiras racionais de um diálogo, após um comentário/crítica, não escutará nada. É uma verdade, podem perceber. Não é um argumento, e mais, não há mais modo algum de argumentar com esta pessoa. Quem se utiliza da falácia apenas faz a pessoa parecer que fez algo errado (e, muitas vezes, nem o tom foi realmente motivo).
E o mais interessante: por que Falácia do Batman? Surgiu de um vídeo com o mesmo nome que, no último exemplo usado, ele conta o causo de uma das manifestações que, em uma das faixas dos manifestantes, estava Abaixo a PM, que obteve como resposta, de um policial, exatamente: - Não gostou, chama o Batman! Sim, exatamente por isso. Usando da falácia, houve a citação do personagem Batman. A ideia é a mesma: não argumentou, apenas o passional ficou à mostra.
Bem, é isso. Espero que tenham entendido, ou ao menos visto que aquele tipo de reação bem comum tem até um nome. Um nome legal, aliás. E fica a dica: tentem argumentar, apontar, apresentar suas ideias devidamente, a Falácia do Batman não te leva a lugar algum, não te ajuda, e pior: não serve para nada!
Ps: Um agradecimento especial para o canal Desconstruindo Ideias e, um segundo vídeo, analisando pelo viés Anarquista, do canal Papo Subversivo pela análise sensata e bem feita, já que ambos serviram de inspiração para este texto.