A Transpiração Continua e Prolongada do Charlie Brown Jr
Abre-se o album Transpiração Continua Prolongada com a faixa “Tributo ao Frango da Malásia”, uma vinheta que mostra o lado cômico da banda, que mais tarde viria a ser marca registrada da positividade e good vibration do Chorão:
“A banda charliie brown jr. / Orgulhosamente apresenta / O canto do pré-histórico, o endividado, o extinto:/ O último frango da malásia.”
A faixa 2 foi uma das que estouraram nas rádios, “O Coro vai Comê!”, ainda no estilo debochado Chorão apresenta várias gírias do skate, como: biron, bacon, xotonson, travazon, rasga rasgazon, como o próprio Chorão explica é a lingagem do “on”, “se o cara tem a base, ele tem muita bason!”, o música segue num ska:
“Meu, tu não sabe o que aconteceu!/ Os caras do Charlie Brown invadiram a cidade!/ Junte sua mãe, seu cachorro e sua sogra / Traga todo mundo o coro vai comê! / Give it up hey! / Do you really wanna do it boy”
Outro sucesso de rádio é a faixa “Tudo que Ela Gosta de Escutar”, a canção apresenta elementos praieros, num dia e refrão com riffs mais acelerados, na letra, autobiografica, Chorão divide a experiência de ser um pobretão e namorar uma mina melhor pocisionada economicamente:
“Fim de festa olho pra ela, ela sorri pra mim / Me secou a noite inteira / Ela só pode estar afim / Ela tem carro importado e telefone celular / Eu só tenho uma magrela e um ap. no bnh / Eu falo tudo que ela gosta de escutar / Deve ser por isso que ela vem me procurar / Eu falo, eu falo tudo que ela gosta de escutar / Deve ser por isso que ela vem me procurar”A quarta música é “Sheik”, é pra eu ser repetitivo, essa foi outra que tocou muito nas rádios, misturando rock e ragga, o tom de deboche continua, ao contrário dá faixa anterior, nessa os papéis se invertem, agora é narrado a vida, nada difícil, de um homem de muito poder aquisitivo, o Sheik:
“Eu sou o Sheik, tenho mais de mil mulheres no meu harém / Minha barraca tá armada e não tem pra ninguém / Com meu petróleo tua máquina funciona bem / Vou te comprar pro meu harém! / Porque eu só moro em cobertura, só ando em limousine / Um milhão no porta-malas, cinco minas de biquíni / Eu sou o Sheik, Sheik, Sheik / Vou te comprar pro meu harém!”
Quinta faixa é o instrumental “Hei! Arreia” que é extremamente bizarra, no bom sentido, numa espécie de celebração aborígene. E o disco segue com “Gimme o anel”, que pra variar tocou muito nas rádios, a faixa é mais pesada, tem a forte groove do baixo, e a influência do rap metal, a poesia descorre sobre um cara falido que consegue o que quer com uma burguesinha:
“Ela riu de mim disse que talvez /
Se eu fosse um cara de nome /
Ou se eu fosse um burguês /
Eu disse calma neném /
Eu tive um dia difícil /
Dinheiro você já tem /
Eu te ofereço meu míssil /
Do you wanna gimme girl? /
Do you wanna give me o anel? /
Do you wanna give me girl? /
Do you wanna go pro motel?”
Nova vinheta, “Molengol´s Groove”, onde há a estreia (pelo menos registrado em disco) do beat box do Champignon, que viria a ser também uma das marcas registradas do Charlie Brown Jr. A música de número 8, é “Aquela Paz”, novamente o beat box do Champignon, peso na guitarra do Thiago Castanho, a forte presença do rap, num discurso falado: “Quinta Feira”, música que, já sabe né? Lembrada pelo baixo marcante de Champignon, numa mistura de reggae e rock e que traz um forte refrão:
“A vida é feita de atitudes nem sempre decentes /
Não lhe julgam pela razão, mas pelos seus antecedentes /
É quando eu volto a me lembrar /
Do que eu pensava nem ter feito /
Vem, me traz aquela paz /
Você procura a perfeição e eu tenho andado sob efeito, mas /
Posso te dizer que eu já não aguento mais /
Desencana, não vou mudar por sua causa não tem jeito, mas /
Quem é que decide o que é melhor pra minha vida agora?”
A faixa 10, fecha o “lado A” do albúm, “Proibida pra Mim (Grazon)”, talvez o maior sucesso da banda no disco de estreia, o que evidentemente fez a canção tocar muito nas rádios, a letra foi escrita pra Grazon, ou melhor para Gaziela Gonçalves, na epoca namorada e que mais tarde viria a ser sua esposa, o ritmo segue num ritmo acelerado com linhas marcantes do baixo numa especie de ska-punk:
“Ela achou meu cabelo engraçado / Proibida pra mim no way / Disse que não podia ficar / Mas levou a sério o que eu falei / Eu vou fazer de tudo que eu puder / Eu vou roubar essa mulher pra mim / Eu posso te ligar a qualquer hora / Mas eu nem sei seu nome! / Se não eu, quem vai fazer você feliz? / Se não eu, quem vai fazer você feliz? Guerra!”
A música “Lombra”, faixa 11, a mais pesada do disco, e que inicia o “labo B” do disco, ou seja, aqui as músicas já não foram vinculadas á rádio, sendo assim parte do Submundo do Som. Lombra traz a participação do rapper PMC e o dj Deco Murphy, conhecidos pelo sucesso “Corre que lá vem os Homi”, Lombra é uma faixa rap, que Chorão e PMC dividem as rimas:
“Poucos acertos, muitas noites de perigo / Pela história fui salvo, mas perdi grandes amigos / Na noite tudo se pode, horas abertas são / O cenário ideal pra quem vai na contramão / Você diz que é mafioso e que é ladrão / Faz tudo errado e os outros pagam por você, meu irmão! / Você diz que é mafioso e que é ladrão / Faz tudo errado e os outros pagam por você, ladrão! / Ele adorava uma arma / Todo mundo ele aloprava / Com seu jeito meio clepto de ser / Zé bonitão, todo função, rambo vilão / Herói da gang juvenil, pesadelo do Brasil”
A música de número 12 foi composta pelo Champignon, “Corra Vagabundo”, outra na pegada rap metal, com linhas de baixo pesadíssimas, Chorão e Champignon fazem o vocal:
“Corra vagabundo olha a polícia aí!/ Porque eu não quero ficar na cadeia / o dia inteiro a noite inteira / o dia passa na doideira também passa do ponto / Chegamos onde deveria ser / Vagabundo deitado, mão na cabeça, identidade / Não minta não porque, se não vai ser pior pra você! / Corra vagabundo olha a polícia aí! / Corra vagabundo olha a polícia aí! yeah…”
A próxima faixa é “Falar, falar…” aqui o clima de deboche diminui e a letra trás uma critica mais séria, numa daquelas faixas que o hibridismo musical se faz presente nos 2 minutos e 48 segundos da faixa, que passa pelo hardcore, ska e hip hop, tudo mesclado:
“Se perguntarem pra você / O que falar sobre si mesmo, o que dirá? / Dirá que sabe o que não sabe / Tudo aquilo que jurou nunca dizer, dizer porquê? pra que? / Se perguntarem pra você / Se é com a empregada ou com a patroa, o que dirá? / Se tu lucrou com a vida boa, o que dirá? / Se vai mandar, se vai levar, se vai trazer / Se perguntarem pra você o que falar sobre si mesmo, o que dirá? / Dirá que sabe o que não sabe! / Tudo aquilo que jurou nunca dizer, porquê? / Você gosta de falar, falar, falar! / Então me diga sobre o que que você fala bem?”
A música 14 é “Festa”, a exemplo da música anterior, também trás o hibridismo característico do Charlie Brown Jr, os refrões com riffs mas pesados trazem:
“Hoje eu vou dar uma festa / Você vai ser meu convidado / Com mini-ramp, com gente decente / Sem Zé-Mané, sem pau-no-cú do lado / Hoje eu vou dar uma festa / Com muita erva, muita perva e muita cerva / Hoje eu vou dar uma festa / Cai na noite, manda bala / Mete a cara, tudo / fala Terça, / Quarta, Quinta-feira, na / doideira a / noite inteira / Você perde a / liberdade, / vira alvo da / cidade”A faixa 14, “Escalas Tropicais”, traz participação especial da banda Lagoa 66, que surgiu no rock em 1986, criada pelos amigos Tadeu Patolla e Rogério Naccache, e leva esse nome devido a ser um endereço de Patolla na Vila Mariana, Rua Borges Lagoa 66. A caracteristica da música é a influencia direta do Lagoa 66 que traz um rock anos 80 que é misturado com o estilo debochado do Chorão e a ira punk do rock anos 90.
“Um lindo dia, céu azul e coisa e tal / Viajando no Eugênio na lagoa, na moral / Eu vou comendo a vontade, eu vou jogando carteado / Eu faço a boa no velho! Cá! coitado! / Tomo aulas de dança no salão / Eu me bronzeio no sol de verão / Sei que sereia é sereia / E que piranha é piranha / Mas no fundo da rede a gente sempre se engana”E pra encerrar esse (puta) albúm de estreia, a última faixa, a de número 15, leva o nome da banda, “Charlie Brown Jr.”, a música mistura hardcore com os scratchs do rap, em mais uma letra autobiográfica de Chorão:
“Muita gente riu de mim / Quando eu disse que podia fazer o que quisesse da minha vida / Foram muitos anos de vivência / Muitos baldes de água fria na cabeça / Muitos goles a mais, alguns passos para trás / Só flagrando a cena / Eu aprendi o bastante pra poder sorrir / Pois ainda estou aqui, tentando conquistar o meu espaço / Com muito pouca condição / Mas a cabeça não abaixo / Sou Charlie Brown, cuzão! / (Tcharolladrão)
E o que tenho de bom é do melhor / Sou o que sou, sei porque sou / Aonde estou e o que quero / Sei com quem devo estar / E o que da vida espero / Tribo que não tem medo do perigo skatista / Vagabundo, batizado, favelado / Muitas vezes culpado sem ser julgado / Passei por isso, da vida sei o que espero, yeah / Deixe estar, que eu…que eu sigo em frente”
A estreia do Charlie Brown Jr teve destaque pelo fato do álbum Transpiração Continua e Prolongada ser de faixas curtas, terem peso e atitude e uma identidade própria, que não havia em outras bandas, por mais que o CBJR tenha como inspiração Planet Hemp, O Rappa, Raimundos, Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A (como a banda agradece no encarte ao Planet, Hemp Family e o MLSA) o estilo que a banda seguiu foi original e único. O álbum vendeu mais de 250 mil cópias e recebeu o prêmio de disco de platina.
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